Lopes Marcelo
Tecnocracia e Plutocracia! E a Política?
Tal como em anteriores crónicas sobre circunstâncias da nossa vida colectiva, volto a partilhar com os leitores alguns conceitos, tendo sempre ao lado velho Dicionário. Assim, Tecnocracia: concepcão política, económica e social que valoriza as soluções técnicas e que atribui aos técnicos um poder por vezes superior aos da classe política (Dicionário de Língua Portuguesa Contemporãnea da Academia de Ciências). E Plutocracia: influência do dinheiro; preponderância dos ricos na governação pública; os ricos. E agora, Política: arte de governar a cidade, um povo ou uma nação; arte de dirigir as relações entre os Estados, princípios politicos, astúcia, artificioso, civilidade.
Vêm estes conceitos a propósito da problemática da ruptura financeira e da falência do Grupo Espírito Santo. A indústria do dinheiro, entrelaçando várias empresas legais apesar de tudo e outras moldadas nos ditos paraísos fiscais, espalhadas por diferentes geografias em reconditos lugares, sobrepôe o dinheiro como mercadoria ao desenvolvimento da sociedade.
Tantas vezes apresentada como a indústria da competitividade, onde trabalham os melhores gestores. E ele há-os para todos os gostos, vestem sempre impecávelmente de fato escuro, entram e saiem de carros de luxo com papeis nas mãos sempre com um ar satisfeito, importante, cheios de auto-confiança, sabedoria e meritocracia. Quando a alguns lhes corre algo mal, por culpa do mercado certamente e não deles «coitados», são logo substituidos por outros muito parecidos e das mesmas escolas. Eles que endeusam o mercado, vivem e ficam podres de ricos com o mercado; quando o mercado lhes tira o tapete, continuam inchados e convencidos, com bons carros, palácios e hoteis para poderem levar a boa vida a que foram habituados, pois não sabem mudar de vida! E até não devem precisas pois que sendo tâo eficientes, terão reservado uns milhões para o que desse e viesse! Na indústria do dinheiro, os gestores de fundos são disputados e contratados por objectivos, ganham muito mais e escandalosamente se colocarem o dinheiro a render sempre mais. Só que o sempre mais não existe. Pode-se enganar alguns e até muitos durante algum tempo, mas não durante todo o tempo. Não há contabilidades criativas, nem jogos de poder, nem mercados por mais «excelentes» ou «inteligentes» que nos digam que são, nem circuitos suterrâneos que suportem a Plutocracia, ou, dizendo melhor, que a tornem auto-sustentável como as tribos financeiras tanto gostariam.
Então, com os tecnocrata no seu melhor e as tribos de plutarcas a reorganizarem-se, embora com lutas internas mas sempre de camisa branca e colarinho engomado, onde está a política? Que papel cabe à política? Os casamentos e interesses entre os (as )tecnocratas, os (as) plutocratas e os (as) das carreiras políticas vão continuar? E que grande catálogo já lá vai! Que papel cabe à política em democracia (governo do povo através dos seus representantes)? Ainda a procissão vai no adro e é a altura de todas as perguntas! Vão existir mais procissões? Só vai mudar quem vai debaixo do pálio? Muda a letra dos cânticos? Vamos continuar a bater palmas e a colocar nas janelas as nossas melhores colchas? Tant as perguntas para tão poucas respostas...Mas perguntar é preciso, perguntar é urgente!