| Ano |

Error parsing XSLT file: \xslt\NTS_XSLT_Menu_Principal.xslt

14 maio 2014

Antonieta Garcia
Que horas marca o relógio?

Os relógios têm uma história longa. Os primeiros seriam os de sol que mediam o tempo pela observação da posição do astro rei. Traçados com arte, em espaços adequados, os “relógios de sol de jardim” ostentavam um mostrador com linhas desenhadas a indicar as horas e um pino ou placa que projetava a sombra no mostrador funcionando como um ponteiro de um qualquer relógio. Os de areia (ampulhetas) e de água (clepsidras) existiriam também alguns séculos antes de Cristo. Filhos de um deus mau, invejoso, um tal Cronos, viciado em antropofagia, acolitaram-no três Parcas que decidiam do momento do nascimento, da extensão da vida e da morte.
Yi Xing, um monge budista, em 725 d.C., avança com o primeiro relógio mecânico, embora o mundo ocidental aponte como o seu construtor verdadeiro, no ano 1000, o Papa Silvestre II. Fosse quem fosse, certo é que estava dado um passo relevante nos aparelhos de medição do tempo.
Roskopf, em 1860, quis democratizá-los, construindo relógios mais em conta. Os negócios não correram como desejava e, apesar de ser um especialista na matéria, em Portugal, vá lá saber-se por que razão, batiza-se de “marca roscofe” o relógio que é de pouca ou nenhuma valia. Não presta.
Havia que esperar algum tempo até que os relógios de rua, como o altivo Big Ben, entrassem em cena para dar horas certas com as badaladas a soarem horas fiáveis.
Resumindo, nada há, porém, como a evolução tecnológica. Hoje, em qualquer lojeca, por dez réis de mel coado adquire-se um relógio, um cronómetro. Objetos essenciais e omnipresentes na vida coletiva, das instituições às cozinhas, permitem cumprir horas, com rigor.
Ainda assim, uns nascem tortos, raramente se endireitam e deixam muito a desejar no desempenho de funções. O de Paulo Portas inaugurado a 15 de Dezembro de 2013 e que, em contagem decrescente, anunciava a data da partida dos visíveis e mudos técnicos da troica para 18 de Junho, à meia-noite, não sendo roscofe, parecia.
Após um percurso secular para acertar a medição do tempo, um equívoco deste tamanho cai mal. Data tão apregoada, tão histórica, o 17 de Maio – a lembrar a independência portuguesa à imagem e semelhança do 1º de Dezembro, como dizia Portas – e o relógio falhava. O assessor de imprensa do CDS explicaria: “São jovens, a ideia é o que conta”.
A juventude centrista, que dera à luz o projeto, argumentaria que o erro surgira quando, após o transporte, o relógio foi ligado. Pois. E, de repente, a memória do Coelho Branco de Alice no país das maravilhas, a olhar o relógio de bolso, aflorou. Alice correu atrás dele. Assim começa a história. Depois, a menina cai na toca, e é transportada para um lugar fantástico: o país das maravilhas.
Esta aventura contada por Lewis Carrol pode ter, porém, versões que a versão do autor desconhece.
Era o mesmo Coelho, havia um relógio, a corrida de povo atrás dele, a entrar num país salvador que as promessas eleitorais tinham afiançado, e que se vê… a mergulhar numa toca de muita pobreza e tristeza. Personagens principais, algumas amigas do Coelho, começam a dar ordens, decretam, desfazem, refundam e afundam… desmantelam o que está de pé. A miséria reina, o desemprego é um Deus-nos-acuda, as empresas evaporam-se num ai, todos bebem de um cálice que consome pessoas, devagarinho, em lume brando. O Coelho é medroso. Teme a rainha e os reis, as situações. Repete acusações dos mandantes nobres, culpa os que qualifica de esbanjadores e que deviam ser pobrezinhos para sempre, ámen; a troica e a Europa são responsabilizadas pelas malfeitorias. Tudo muda, em Maio, para mostrar o sucesso de euros a mais para uns e a menos para a maioria. À beirinha das eleições europeias, subimos no lixo das agências de rating, chovem elogios às medidas… que despedaçaram vidas, sonhos e tudo. Dignidade, igualdade, fraternidade são pieguices de quem não tem que governar.
A este país nos levou o Coelho Branco coadjuvado por gente da mesma fé. Ao relógio atribuíram a função de marcar a hora da libertação, da autonomia, da independência nacional. Para trás, garantem, ficam vampiros e personagens afins. Uma mudança repentina na covardia? Mas por que razão não acreditamos que as badaladas de 17 de Maio nos presenteiem com a saída do pesadelo? Reis e rainhas conhecem as estratégias das corridas eleitorais. O euro tem agora de mostrar o seu “conseguimento” para obviar a qualquer sentimento “frustracional” que se reflita nos votos. O que vai mudar? Nada?
Oremos, então: Valei-nos deuses bons e livrai-nos de todas as tocas e de líderes que não acertam horas pelos Direitos Humanos.

14/05/2014
 

Outros Artigos

Em Agenda

 
28/09 a 03/11
Punctum – O Jazz em PalcoCentro Cultural Raiano, Idanha-a-Nova
16/10 a 11/11
Chiribi Tátá TátáMuseu do Canteiro, Alcains

Gala Troféu Gazeta Atletismo 2022

Castelo Branco nos Açores

Video