Desassossego - José Lagiosa
25 de novembro
Os longos meses em que durou o PREC terminaram, finalmente, a 25 de novembro de 1975.
Para o bem e para o mal, dois homens sobressaíram de entre a elite militar à época: Ramalho Eanes, então adjunto de Vasco Lourenço na Região Militar de Lisboa, e Jaime Neves, este já falecido. No entanto para mim, um dos mais importantes embora a história ainda não tenha feito a devida justiça, houve um terceiro homem que teve uma importância elevada senão mesmo essencial para que fosse reposta a ordem democrática em Portugal, falo de Vasco Lourenço, que havia sido nomeado pelo Conselho da Revolução, a 20 de novembro de 75, Comandante da Região Militar de Lisboa (RML), substituindo Otelo Saraiva de Carvalho. Vasco Lourenço deu voz de prisão, a 25 de novembro a Diniz de Almeida, comandante do RALIS e de quem falei na passada semana e Mário Tomé, já à data filiado na UDP, entre outros, o que foi primordial para travar as forças militares esquerdistas. Foi então decretado pelo Presidente da República, Costa Gomes, o estado de sítio na Região Militar de Lisboa.
Foi aqui, que mais uma vez, na ânsia de servir a novíssima Liberdade que nos tinha sido restituída, cometi um ato que me poderia ter custado caro.
A RML emitira alguns salvo-condutos para militantes socialistas, nomeadamente para a seção de Moscavide, mas alguns não vieram logo, apareceram num segundo lote, mormente o meu e portanto nos meus dezoito anos pensei que não arriscaria muito andando na rua, em atividade política, o que se veio a demonstrar ter sido uma autêntica criancice, já que acabei por ser detido e conduzido à esquadra da PSP em Moscavide, tendo-me valido estar de serviço um subchefe que era meu vizinho e que ordenou me conduzissem a casa sem mais problemas.
Ora mal me apanhei liberto, não resisti, e logo voltei para a rua desta vez com redobradas cautelas para não voltar a ser apanhado. Na manhã seguinte lá recebi o salvo-conduto. A 27 de novembro o estado de sítio é diminuído para parcial e totalmente a 1 de dezembro. A 28 o VI Governo Provisório retoma funções e paulatinamente o clima político volta à normalidade, com vistas às primeiras eleições Legislativas democráticas, que se realizaram a 25 de Abril de 1976 e nas quais tive uma participação ativa como vos contarei oportunamente.