Jornadas de Medicina da Beira Interior assinalam 25 anos
“Foram 25 anos de trabalho, ilusões e algumas desilusões”
As Jornadas de Medicina da Beira Interior – Da Pré-História ao Século XXI, que decorreram na Biblioteca Municipal de Castelo Branco, nos dias 8 e 9 de novembro, atingiram as 25 edições.
Foi em 1988 que António Salvado, à data diretor do Museu Francisco Tavares Proença Júnior e o médico António Lourenço Marques, que exercia funções do Hospital Amato Lusitano (HAL), decidiram em conjunto avançar com umas jornadas, pensadas sobre a realidade do homem na Beira Interior e que acabaram por ter como “farol”, o Dr. João Rodrigues, o Amato Lusitano, nascido em Castelo Branco, em 1511 e que estudou Medicina na Universidade de Salamanca, tendo regressado a Portugal em 1529. Por ser judeu, foi impedido de regressar a Portugal devido às perseguições da Inquisição, o que o levou a viajar para Antuérpia (1534), onde publicou o seu primeiro livro Index Dioscoridis (1536). É aí que adopta o nome de Amato Lusitano, com o qual passa a assinar as suas obras. António Lourenço Marques recorda à Gazeta do Interior, que na altura era um frequentador assíduo do Museu Francissco Tavares Proença Júnior e foi numa das suas muitas visitas que encontrou António Salvado, “que me acolheu no seu gabinete, numa tarde fresca”, e lhe sugeriu então a hipótese de realizarem umas jornadas.
“Mantivemos bastantes contatos e fomos delineando as jornadas. O Dr. Salvado conhecia bem o terreno, tinha muita experiência e tinha trabalhado com José Lopes Dias. Era um sabedor”, diz Lourenço Marques, acrescentando que o “interessante é que nessa altura falou-se de Amato Lusitano, como um autor que ele conhecia pelos trabalhos de José Lopes Dias e pela tradução de Firmino Crespo. E, ele suspeitava que havia ali muito trabalho a fazer e a explorar”.
Surgem então as primeiras jornadas, que decorreram em Castelo Branco, em finais de março de 1988. “Foram um sucesso. Tivemos 16 comunicações nesse ano, veio gente bastante conceituada e logo a seguir pensamos na publicação das comunicações. Conseguimos fazer o primeiro caderno, não com todas as comunicações e fizemos um segundo caderno no ano seguinte”, recorda Lourenço Marques.
Com a simplicidade que se lhe reconhece, o médico Lourenço Marques refere que “depois continuamos os dois. Houve sempre uma ligação muito boa, compreendemo-nos sempre muito bem e, ano após ano, chegámos aqui. Nunca me passou pela cabeça os 25 anos. Foi muita coisa, muito tempo, mas aconteceu tudo com naturalidade”, sublinha, António Lourenço Marques. Recorde-se que em 25 anos foram proferidas 432 comunicações das quais 142 foram dedicadas a João Rodrigues, o Amato Lusitano.
Sobre o futuro e a continuidade destas jornadas que têm contribuído para a afirmação de Castelo Branco como um dos pólos de estudo e de divulgação histórica da medicina, Lourenço Marques deixa um sorriso e diz apenas que enquanto a saúde deixar...certamente que iremos ter mais Jornadas de Medicina da Beira Interior.
Há muito por desvendar
Por seu turno, António Salvado diz que a duração das jornadas, “trata-se de uma história longa no tempo. Foi a última iniciativa que o museu teve sob a minha direção. Entretanto, seguiram-se estes 25 anos. Foram centenas de comunicações, a publicação de uma revista recolhendo essas comunicações e outras atividades paralelas que tivemos”.
António Salvado recorda que foram 25 anos de trabalho, de muitas ilusões, algumas desilusões, mas sublinha o apoio e o interesse que sempre tiveram por parte das entidades oficiais.
“Quero salientar e é justo que o faça, que desde que o comendador Joaquim Morão assumiu a presidência da câmara de Castelo Branco, as jornadas começaram a ter um apoio extraordinário”, refere António Salvado, que acrescenta ainda que é a “ele que se ficam a dever muito daquilo que as jornadas foram nestes últimos anos”, em particular, as comemorações dos 500 anos do nascimento de Amato Lusitano. “É isso que lhe ficamos a dever e daí ter insistido para que ele estivesse aqui hoje”.
António Salvado, recorda que as jornadas surgiram também porque uma das suas preocupações à data, no museu, “era fazer dele um museu regional. Foi isso que nos levou a acionar e a dar origem a umas jornadas de medicina, não a medicina tradicional, mas a medicina da pré-história ao século XXI”.
Curiosamente, o orador que abriu as XXV Jornadas de medicina da Beira Interior, foi o arqueólogo Luís Raposo, ex-diretor do Museu Nacional de Arqueologia e que esteve também presente nas primeiras jornadas.
Quanto ao futuro, António Salvado diz que ainda há muito a desvendar sobre Amato Lusitano.
“Estas jornadas têm aglutinado aquilo que chamamos de ciências humanas nas suas variedades disciplinares”, refere. E, sobre a continuidade deste trabalho, António Salvado diz “vamos ver! Que venham outros 25 anos”.
Na sessão de abertura das jornadas, o atual presidente da Câmara Municipal de Castelo Branco realçou a importância que António Salvado e António Lourenço Marques têm no panorama cultural de Castelo Branco.
Luís Correia deixou bem vincado que a câmara municipal irá continuar a apoiar este projeto sublinhando que “essa é a nossa obrigação”.
O autarca disse ainda que é necessário ter consciência daquilo que se produz e dar-lhe o respetivo valor e concluiu, dizendo que as Jornadas de Medicina da Beira Interior, “pela sua grandeza já são uma instituição em Castelo Branco”.