11 dezembro 2013

Antonieta Garcia
Prendas de Natal atuais e os avós

As luzinhas já tremeluzem, animam vitrinas e ruas… É o Natal, festa de luz. Sacos, caixas, laços, muitos laços simples, dobrados e complicados, alguns artísticos, espalham-se pelas casas. A atenção prestada ao papel e fitas tem que se lhe diga, claro. Uma boa prenda merece um invólucro a condizer. Problema é quando as expectativas criadas pelo embrulho saem goradas e apetece ficarmo-nos pelos pacotes.
Se há crianças, ensaiam-se esconderijos possíveis para as ofertas até à noite de Consoada, momento em que o Pai Natal entra na história. Quem resiste ao senhor bonacheirão trajado de vermelho, de barrete estranho e longas barbas brancas? Afinal, num transporte puxado por renas simpáticas, vem carregadinho de brinquedos para petizes de todo o mundo… Sabe tão bem acreditar e esperar que, primeiro, os filhos e depois os netos se deixem seduzir pelo avô bem-disposto, alegre, disponível…
Os tempos mudaram, mas a personagem foi bem escolhida e o Pai Natal mantém-se atualíssimo. O busílis da questão está nas prendas que os pirralhos pedem. Antigamente era fácil; as últimas bonecas da coleção para meninas, com os respetivos ademanes, carrinhos e garagens para os cachopos, mais uns legos, uns mecanos… Entendiam-se bem os pedidos, orais ou por cartas, dos mais novos. Mesmo quando as bonecas passaram a ter nome, bastava ir a uma vitrina e identificar o desejo das miúdas. Entre os livros, depois do Capuchinho, Gata Borralheira e Branca de Neve… com séculos de existência, introduziam-se outros contos, os da moda, sem faltarem os tradicionais índios e cowboys para os rapazes.
Acresce que, quer as ilustrações dos livros, quer as bonecas, as personagens de filmes, ou outros artefactos de brincar…ou eram canonicamente bonitos ou feios. Pouco criativos? Pois, seriam. Mas a volta que deram ao texto foi tão excessiva que escolher um presente para um neto implica, das duas, uma: não sabe ou detesta o que oferece; faz uma formação ad hoc para entender o mundo dos brinquedos atuais.
Perguntar o que a garotada quer, não resolve. A resposta vem numa linguagem atamancada e inidentificável. O rol inclui: Ninjas, Pokemons, Invizimals, Naruto, Sonic, Heavy Rain, Monster qualquer coisa… E há nomes ainda mais complexos, imemorizáveis, e criaturas que evoluem e desevoluem… Feios como só eles, graças ao artista que os cria, não se parecem com nada… de agradável. Também algaraviam tu cá, tu lá sobre tablets, google, face book, you tube, bluetooth, chats…
Neste universo, há ainda que atender a Nintendos, Play Stations 2, 3, 4… Os jogos assemelham-se todos, exigem uma coordenação motora que só eles têm, só eles têm…
Ouço e pasmo: Não posso parar! Já tenho pouca vida! Espera!
Ou: Se paro agora, perco o jogo, tenho de voltar ao princípio. Não trouxe o memory card!
O jogo vale mais que qualquer conversa, e os pequenos ficam mudos, tudo é seca, se não houver uma maquineta de permeio. Ferrados em computadores e quejandos, vibram, emocionam-se, gritam, saltam nas cadeiras, jogam horas e horas a fio… como se não houvesse amanhã. A sopa arrefece? O arroz perde a graça?… No princípio e no fim é o jogo.
Ou seja: um avô que dava uma prenda de alma aberta e com o prazer de ver a alegria dos garotos, agora perde a primeira parte. A alegria salvou-se. Esmaeceu o outro lado da oferta. Pessimista? Talvez. Eu bem leio pedagogos que dissertam entusiasmados sobre as vantagens, para o desenvolvimento das crianças e jovens, dos videogames. Podem ser explorados pedagogicamente, claro, valorizar a produção de saberes, desenvolver habilidades, valores e atitudes. Mas os videogames escolares ou que servem as aprendizagens… quem os usa com a paixão que os outros provocam? Acresce que engordam tanto, mexem-se tão pouco!
E ri quando, há dias, me mostraram uma ilustração de um matrimónio modernérrimo. É uma caricatura, quase uma anedota. Ele e ela estão frente ao computador. O padre casa-os e, de acordo com os tempos atuais, expressa: Declaro-vos marido e mulher até que o face book vos separe.

11/12/2013
 

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