DOS MEUS TEMPOS DE JUVENTUDE, lembro que todos os anos um grupo de gente madura se juntava para festejar a implantação da República, em 1910. Era, e é, um dia feriado, estudava-se na História a razão de o ser, mas tão distante já estava que tudo aquilo nos passava ao lado e as comemorações dos republicanos eram vistas quase como um ato folclórico, de saudosistas de um tempo de que grande parte dos jovens não percecionava a importância. Até porque o regime antidemocrático em que se vivia, enfatizava a balbúrdia e a instabilidade política da Primeira República, a que conforme a propaganda do Estado Novo, o golpe de 28 de maio de 1926 viria a colocar um ponto final.
É isto que não pode acontecer nos já 51 anos da Revolução da abril, da implantação da Democracia e da Liberdade, e os 50 anos das primeiras eleições livres para a Constituinte. Que não o esqueçam mesmo os que já tendo nascido no Portugal Democrático, não sabem o que era viver tempos de censura, sem liberdade de imprensa, de voto e de reunião. Mas, ou porque que a Escola tem feito um bom trabalho na prossecução deste objetivo de educar para a cidadania, ou porque muitas famílias não descuram o seu papel fundamental na formação dos filhos, ou pela conjugação dos dois, continuamos a ver nos desfiles anuais e atividades comemorativas a participação de um número razoável de jovens.
Manter vivo o espírito de abril é ainda mais importante nos dias que correm. Porque todos devem percecionar que aquilo que acontece na América também nos vai afetar. E muito. Porque esta é a prova de que a democracia, com tudo o que ela pressupõe, não pode ser entendida como um sistema político garantido. Veja-se como tudo isto que era dado como adquirido, está agora em risco e cada vez mais próximo da implantação de uma autocracia que não vai trazer nada, mesmo nada, de bom para a América e para o Mundo. As deportações indiscriminadas e ilegais; o desrespeito pelas decisões dos tribunais, mesmo os de mais alta instância; a perseguição e despedimento de todos os que alguma vez criticaram ou se opuseram ao Grande Chefe, que se auto elogia como sendo dotado de uma inteligência incrível; a obstrução do trabalho dos jornalistas que escrevam ou coloquem perguntas inconvenientes nas diárias conferências de imprensa, tudo isto tem de preocupar os democratas. A perseguição e controle da Cultura (lembram-se daquela famosa frase dita por um nazi, quando oiço falar de cultura, puxo da pistola?) e da Ciência vai gerar um retrocesso civilizacional de consequências inimagináveis.
A tentativa de controle ideológico das Universidades, com ameaça do corte total do financiamento, colocou uma pressão descomunal sobre as universidades americanas. Columbia teve de se ajoelhar aos pés do Grande Chefe, ao contrário da prestigiada Harvard, que por ter recursos imensos, pode dispensar, pelo menos transitoriamente, os mais de dois mil milhões de dólares de corte anunciado em forma de represália.
Mas julga-se tão dono do Mundo que até nas universidades portugueses quer impor o seu controle ideológico. No meio de um ensurdecedor silêncio do Governo, as principais universidades, em particular o Instituto Superior Técnico, deram-lhe a resposta adequada.

DEPOIS DE TER ESCRITO ESTES APONTAMENTOS, chegou a notícia, que já se adivinhava mas mesmo assim inesperada. A morte do Papa Francisco emocionou o Mundo, tão amado ele era pelos católicos e não católicos. Sobre ele, já muito foi dito e nesta edição da Gazeta do Interior também tem quem melhor do que eu escreve sobre Francisco e o seu pontificado. Só me resta desejar que o seu legado tenha continuação e que fiquemos felizes e confiantes quando ouvirmos a partir do Vaticano e depois do Conclave o Habemus Papa.

Outros Artigos