João Carlos Antunes
Apontamentos da Semana...
SÃO MÚLTIPLOS OS OBJETIVOS que as câmaras municipais terão de prosseguir se quiserem cumprir com a sua nobre e essencial missão de defesa da democracia, cultura e bem estar das populações. E a democracia também passa pela promoção dos traços identitários da sua comunidade, desenhados nas tradições, nas suas diferentes vertentes, incluindo a cultura gastronómica. E é esse o mérito da iniciativa do município de Proença-a-Nova ao promover a alface de almeirão a rainha do mês de janeiro, com Festival Gastronómico da Salada de Almeirão que se estende por três fins de semana e a que 18 restaurantes do Concelho aderiram. Lembra o município que este é um dos pratos mais emblemáticos da gastronomia local, uma salada de inverno de sabor único e muito saudável.
Uma pergunta ao doutor Google dá-nos em resposta uma panóplia de benefícios: combate a prisão de ventre, facilita o emagrecimento, mantém a saúde dos olhos, evita os diabetes, previne a anemia, fortalece o sistema imunológico, previne doenças cardiovasculares e o envelhecimento precoce. Porque é rico em vitamina A, muito rico em fibras, ácido fólico, lactucina e ácido cafeico, tudo deve ser coisa boa. A utilização da alface de almeirão ultrapassa claramente o município de Proença, espalha-se um pouco por toda a Beira Interior, mas não tem lugar nas grandes superfícies, talvez nas feiras de rua. Cultivo na minha horta, é resistente ao frio e após um ano de plantio, é quase garantido que não deixará de a habitar, espontânea de tão rústica que é.
Na minha aldeia, quem a tem não a dispensa no feijão frade, também alimento de inverno por excelência. E faz parte das minhas memórias de juventude, a minha mãe preparava o feijão frade e o almeirão em salada cortada muito fina que que se misturavam muito bem num alguidar de barro, colocado no centro da mesa das refeições de onde a família se servia para os pratos. Se agora já não tenho o alguidar no centro da mesa, continuo no entanto a misturar no prato o feijão frade com a salada de almeirão. Tão bom, que estou a escrever e a apetecer-me comer esta mistura digna de qualquer chefe cozinheiro. Pelo prazer gastronómico e satisfação em manter viva a tradição da nossa Beira. Que é de pequenas e modestas coisas como esta e as que todas as semanas as nossas freguesias promovem em festas e festivais a celebrar os coscoréis, as filhoses, as bicas de azeite, o fumeiro, os míscaros, as criadilhas, as cherovias, as migas de peixe do rio, as papas de carolo, as tigeladas... é com estas coisas aparentemente menores que se faz a cultura diferenciadora das gentes beirãs. Um aplauso à Câmara Municipal de Proença-a-Nova pela iniciativa de divulgar a alface de almeirão e abrir o apetite de a conhecer a quem nunca a provou.