Valter Lemos
2025: AINDA E SEMPRE A UCRÂNIA
Os comentadores começam a dar como adquirido que 2025 marcará o fim da guerra da Ucrânia, com um acordo que dará a Putin os territórios que tem sob invasão. É isto que pensam que Trump deseja e que irá propor.
Uns acham isso uma vitória de Putin, outros consideram uma derrota considerando que ele teria como objetivo ocupar toda a Ucrânia o que não conseguiu.
A paz é sempre o maior desejo, mas a paz deve ser fundada na justiça. Em qualquer circunstância parece que neste caso, a existir, será fundada numa maior ou menor injustiça. Atualmente a Ucrânia está em situação mais difícil, mas é natural que os ucranianos estejam esgotados com esta guerra que tem sido mesmo muito dura para eles.
Seja como for, algumas coisas sabemos que não podemos esquecer. Foi a Rússia que invadiu a Ucrânia. Foi Putin que desencadeou a guerra. Os russos foram e são os agressores. Os ucranianos foram e são agredidos. Apesar de haver, por vezes, desrespeito das regras internacionais por parte dos dois contendores, os constantes ataques da Rússia a cidades e a estruturas civis são inaceitáveis e o extermínio de civis em Bucha e outros locais é uma forma moralmente miserável e cobarde de fazer guerra e constitui uma vergonha para o exército russo, para Putin, para a Rússia e para o mundo.
O último ato desse comportamento vergonhoso da Rússia foi o brutal ataque a estruturas civis ucranianas na Noite de Natal! Como é possível fazer tal coisa e como é possível defender tais ações?
Ninguém ignora que a frente ucraniana é uma das faces visíveis do confronto entre a ordem democrática e a ordem autocrática. Quem apoia a Rússia são os regimes ditatoriais, os defensores das ditaduras e das autocracias e os inimigos da democracia. E também aqueles que são contra os EUA em qualquer circunstância e contra a União Europeia, neste caso, precisamente por esta constituir um espaço democrático. Para alguns destes é aceitável sacrificar milhões de ucranianos só para contrariar os EUA ou a UE.
Os ucranianos têm dado uma lição de coragem e patriotismo que verdadeiramente ninguém esperava e merecem a paz em condições, pelo menos, dignas. Zelensky tem representado como ninguém essa coragem, capacidade de resistência e patriotismo do povo ucraniano. E o seu patriotismo contrasta com o nacionalismo bacoco de Putin e seus seguidores e até de líderes europeus que usam as bacoquices nacionalistas simplesmente para enganar os seus eleitores.
Zelensky ficará para a história como um herói, qualquer que seja o resultado desta guerra. E merece-o. Ao contrário de Putin que ficará para a história como mais um ditador desumano e criminoso. O fim da guerra, a acontecer, significará provavelmente a saída de Zelensky da cena política. Em democracia muitos líderes que conduziram os seus concidadãos durante guerras, saíram em tempo de paz, sendo Churchill o caso mais conhecido. Só em ditadura os líderes de eternizam no poder como acontece na Rússia ou na Coreia do Norte. Mas, qualquer que seja o destino de Zelensky, estes três anos já fazem parte da história da Ucrânia, da Europa e do mundo e o seu notável papel não poderá ser apagado e ficará como exemplo não só para os ucranianos, mas também para todos os europeus. O seu sentimento europeísta, partilhado, aliás, pela esmagadora maioria dos seus compatriotas mostrou-se bem mais forte do que o de muitos europeus que, apesar de viverem à custa da solidariedade europeia, boicotam e sabotam o sentimento europeu.
A UE tem de apoiar a Ucrânia até ao limite das suas capacidades. Porque os ucranianos têm sido, à custa da vida de muitos, a linha da frente da liberdade, da democracia e do próprio europeísmo.