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Edição nº 1869 - 13 de novembro de 2024

José Dias Pires
USALBI: TER PASSADO E SER FUTURO

As rugas e os cabelos brancos são, de entre as consequências físicas da inexorabilidade do calendário, as mais vulgares.
É frequente ouvirmos, nas conversas banais de todos os dias, os habituais queixumes a propósito do incómodo dos cabelos brancos e das rugas que, para os mais extremistas, nos desfiguram os rostos e nos transformam em velhos.
Mas afinal, o que significará, exatamente, envelhecer? Especialmente envelhecer bem?
Na minha opinião o conceito de velhice tem um sinónimo: oportunidade.
Onde outros veem tristeza, desânimo, e encerramento de vivências ricas e enriquecedoras, eu teimo em vislumbrar a oportunidade de novas aprendizagens, projetos de vida, relacionamentos sociais intensos, criatividade excecional que nada fica a dever ao que potencialmente nos aconteceu na juventude.
Ter mais idade é ser maior, é não antecipar fins de linha e exigir continuar a ser útil e contrariar a abordagem tradicional da velhice.
É assim na USALBI há vinte anos. Parabéns.
Claro que não nos pode ser indiferente sermos velhos ou novos, e aceitar que esperem de nós o desempenho de determinados papéis de acordo com a idade que exibimos.
Essa será a forma de passarmos a interessar cada vez menos à medida que acumulamos tempo e calendário.
Importa fazer prova, todos os dias, de que não deverá ser a idade o único fator determinante da nossa utilidade e não aceitar qualquer subvalorização do nosso papel consubstanciado na nossa experiência, em detrimento de uma maior atenção a tudo o que é novo, onde apenas a mudança se privilegia e a beleza e a vitalidade se preferem.
Devemos exigir que se nos reconheça o conhecimento do mundo e a vontade de completar o nosso calendário sem desistir das grandes esperanças, da felicidade e da fraternidade universal.
Quando se chega à idade dos grandes desafios finais, há dois caminhos para escolher seguir:
- Um, é ficar pela contemplação passiva, pela recordação das alegrias passadas, como forma de disfarçar a incapacidade para as voltar a sentir de novo.
- O outro é o caminho da alegria partilhada, da vontade tenaz de não ceder nunca ao facilitismo de uma prévia condenação à impotência de viver, na convicção de que continuamos a ser indivíduos em desenvolvimento e sempre prontos a sair de casa.
Pergunta: Sair de casa, assim, descansadamente?
Sim, para mudar o presente sem medo daqueles que dizem que “quem tenta alterar o passado apenas encarcera, definitivamente, o seu destino”.
Pensemos: se o futuro é sempre o presente imediato - o segundo seguinte - é melhor estar preparado para a duvidosa convicção da novidade que ficar ceticamente convencido da aparente sincronia do tempo.
Outra pergunta: Nestes dias de idade maior, para prepararmos o futuro quanto tempo estivemos em silêncio a olhar o que o passado nos trouxe?
Fazemos parte de uma enorme família à espera do futuro onde importa se obrigue a mudar tudo aquilo que nos diz respeito.
Tanto tem de mudar. Cabe-nos a responsabilidade de não deixar que se confundam oportunismos, arrivismos e incompetências, que são apenas novas roupagens de velhos alfaiates, com necessidades, favores e interesses, porque temos saber, o saber de experiência feito, capaz de ajudar estes tempos de incerteza a mudar para os valores, para os princípios, para o exercício efetivo da cidadania, para a ação preocupada, comprometida e solidária.
É que o nosso futuro não tem “foi quase” nem “foi por um pouco”, não tem desiludidos nem interesseiros, não tem certezas absolutas nem convencimentos inabaláveis - o nosso futuro tem pessoas, confiança e convicções.
O nosso saber acumulado no dia-a-dia, fruto de experiências mais ou menos ricas ou de meras vivências, atua como uma espécie de cartilha indispensável ao conhecimento do mundo.
Nós somos a confluência entre passado e futuro, entre até já, até logo ou até sempre, numa trilogia de tempo: Pais, filhos e netos. Há entre todos um fio invisível que une os seus sorrisos.
Não deixemos que a solidão nos obrigue a condenar o tempo que há de vir a apenas conversar com o passado. Todos nós estamos ainda muito a tempo de ser conquistadores de futuro: umas vezes aventureiros emprestados aos passados dos outros, outros missionários de tradições irrepetíveis e até peregrinos das pequenas e grandes solidões sempre na demanda da cadeira da alegria que será ocupada amanhã por quem é futuro, por isso também por nós.
É verdade, sempre foi o tempo o nosso principal problema, mas devemos começar a resolvê-lo hoje.
É que até amanhã é muito tempo.

13/11/2024
 

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