| Ano |

Error parsing XSLT file: \xslt\NTS_XSLT_Menu_Principal.xslt

Edição nº 1865 - 16 de outubro de 2024

Lopes Marcelo
CUIDAR DO NOSSO QUINTAL

Neste intenso Verão, em meados do passado mês de Setembro, repetiram-se dias de grande calor, destemperada moldura que já tinha acontecido nos meses anteriores. A fonte telúrica de energia em que se renova a vitalidade criadora da natureza sofre sobressaltos que comprometem os ciclos produtivos. Foi o caso recente das videiras, em que as uvas secaram impedindo as vindimas, trabalhos de entre ajuda que na minha terra ainda têm aspectos de vivência comunitária.
Ao longo deste Verão as videiras mantiveram-se vivas. Contudo, a energia da seiva produtiva deve ter baixado logo com os fortes calores de Maio e a ausência de chuva que se prolongou até Setembro. Os pequenos bagos das uvas formaram-se mas o seu crescimento foi retardado devido às sucessivas ondas de calor, não se desenvolvendo de forma harmoniosa, ficando alguns mais pequenos e secando precocemente. Pouco a pouco, a maior parte mirraram ficando completamente sem sumo. De um modo generalizado não se aproveitaram as uvas e a vindima ficou comprometida, apenas se cortaram os cachos secos, como o povo diz: soltar os presos. Este ano não se fez vinho, nem água-ardente, nem jeropiga. Não há memória de que tal tenha acontecido. Por mim, nas últimas sete décadas dou testemunho de que não aconteceu e, mesmo pessoas com cerca de cem anos não têm memória de se não realizar a vindima.
Não podemos deixar de reflectir sobre o que é sinal preocupante dos tempos em que vivemos, com a natureza a reagir, a protestar em face do aquecimento do clima. Sempre ouvi dizer que se cada um tratar bem do seu quintal, o mundo ficará melhor. Contudo, é com grande tristeza que concluo que já não é bem assim. Para além da coerência da atitude e das tarefas de cada um, o conjunto de agressões ao ambiente ultrapassa-nos. Há todo um sistema de grandes empresas poluidoras e de interesses instalados à volta da imparável produção e acumulação capitalista (acumulação de bens, de capitais, de poder e de guerras), que geram perturbações climáticas em ondas que se agigantam, quer de calor, quer de tempestades que são catástrofes cada vez de maior dimensão e impacto cada vez maior de com destruição e morte. Por constituírem notícias quase diárias gera-se uma rotina, qual paradoxo da banalidade que nos vai anestesiando. Encolhem-se tantas vezes os ombros, diz-se que não é propriamente connosco, que é lá longe e pouco ou nada se pode fazer…
Contudo, tal ruptura e morte produtiva também já chega ao nosso quintal, instalando-se silenciosamente nos finos e sensíveis veios da vida vegetal e animal que nos rodeia. Da profunda tristeza e decepção é necessário e urgente recomeçar, ganhar definitivamente consciência, sentir e lançar aos quatro ventos um grito d´alma antes que nos pequenos ribeiros deixe de correr a água que, sendo o sangue, a energia vital da terra, constitui a verdadeira maternidade geradora e conservadora da vida, da nossa base de sobrevivência, do nosso território e, no limite, do próprio planeta.
Não é um problema individual. Não tem solução em tarefas individuais. Mas como é que se forma uma tomada de consciência colectiva sem passar pela genuína indignação e capacidade de intervenção, sem a motivação de cada pessoa? E das suas relações e partilha de informação e de ideias nas famílias, nas empresas, nas escolas, nas colectividades, nos partidos, nos sindicatos, nos órgãos de comunicação social, nos movimentos sociais de causas públicas…Assim, as oportunidades de partilha de conhecimento, de intervenção, de ter voz e de a levantar, de optar, de votar, são muitas e variadas. Mais tarde ou mais cedo, cada cidadão tem oportunidade em escolher em ser activo ou passivo, consciente ou cúmplice por mais tempo, até que a realidade se imponha e lhe bata à porta. Não há mais tempo para mantermos a porta fechada.

16/10/2024
 

Outros Artigos

Em Agenda

 
01/05 a 31/10
50 anos de abril: em cada rosto igualdadeMuseu Municipal de Penamacor
12/06 a 31/10
Uma Poética ResistenteMuseu Francisco Tavares Proença Júnior, Castelo Branco
18/09 a 26/10
TerraRua de Santa Maria, Castelo Branco
28/09 a 03/11
Punctum – O Jazz em PalcoCentro Cultural Raiano, Idanha-a-Nova
16/10 a 11/11
Chiribi Tátá TátáMuseu do Canteiro, Alcains
20/10 a 22/10
Gigi ManzarraEscola Superior de Gestão de Idanha-a-Nova

Gala Troféu Gazeta Atletismo 2022

Castelo Branco nos Açores

Video