João Carlos Antunes
Apontamentos da Semana...
QUEM CONDENOU OS CRIMES DE GUERRA da Rússia, com ataques a estruturas civis, escolas, hospitais, blocos habitacionais, com a lista imensa de mortes de mulheres e crianças indefesas, deveria ser o primeiro a condenar a guerra brutal que Israel desencadeou em Gaza, em resposta ao sangrento e dramático ataque terrorista do Hamas e de que resultaram mortes e sequestros de inocentes. Benjamin Netanyahu o primeiro ministro israelita de um governo de extrema direita radical, respondeu ao hediondo ataque do Hamas com um não menos hediondo ataque ao território de Gaza, um dos espaços mais densamente povoado do planeta e de população bastante jovem. Uma força bruta, sem olhar a meios para destruir a força terrorista. Nem que para isso tivesse que destruir mesquitas, hospitais e escolas. Mesmo sabendo que por cada membro do Hamas morto há centenas de vítimas civis. E ao fim de três meses de guerra, já são mais de 20 mil os civis mortos, incluindo muitos milhares de crianças e 17 jornalistas de todo o Mundo.
Esta política de aniquilação não vai trazer a Netanyahu os resultados esperados. Poderá matar os líderes do Hamas, não vai acabar com o Hamas, porque a violência gera revolta e violência. E entretanto o sentimento antissemita vai-se espalhando pela Europa e pelo Mundo, na mesma proporção do aumento do apoio ao povo palestiniano.
E Netanyahu, mesmo sabendo que o fim do conflito representará muito provavelmente o fim da sua carreira política, vai ter cada vez menos espaço de manobra. Para além das questões relacionadas com as consequências para economia global, foi decisiva a morte de três jovens israelitas sequestrados. Conseguiram escapar do cativeiro e apresentavam-se, obviamente desarmados, acenando com bandeira branca e pedindo ajuda em hebraico, mesmo assim foram alvejados e mortos por soldados israelitas, a provar que o ódio cega. Foi uma machadada na credibilidade da liderança de Netanyahu, fez movimentar em favor do cessar fogo imediato as diplomacias ocidentais, França, Alemanha, Inglaterra e Estados Unidos da América e, também fez levantar um coro de protestos em Israel com grandes manifestações a pedir paz e negociações para libertação de todos os sequestrados.
Daquilo que é público e do que parece estar a acontecer nos bastidores da diplomacia, acredita-se que o tempo não corre a favor do governo de Israel. Até lá vão continuar os bombardeamentos indiscriminados, mesmo a hospitais geridos pela ONU. Um rasto de destruição que tem de chocar todos os que se chocaram com a brutalidade das tropas invasoras russas na Ucrânia.