João Carlos Antunes
Apontamentos da Semana...
A SITUAÇÃO ECONÓMICA de alguma forma critica, que por estes dias tem sido apontada à Santa Casa da Misericórdia de Lisboa e que leva a repensar-se o apoio da Instituição a muitas atividades desportivas, nomeadamente às equipas olímpicas e para-olímpicas, é paradigmática.
As razões que se apontam para estas contas preocupantes numa instituição que até hoje era vista como um saco sem fundo são várias. A primeira é a quebra no chamado jogo social, com os jogadores, no período da pandemia e do isolamento social, a serem atraídos para os jogos online, fora dos domínios da Santa Casa. É provável que recupere jogadores, seria desejável que no caso da raspadinha, o jogo fosse mais controlado, se tal é possível porque há interesses em quem vende e em quem promove. Um exemplo de um jogo social viciante e estamos em crer que já provoca em muitas casas graves problemas económicos e divisões. Sabemos de pessoas, curiosamente na maioria mulheres, que apesar de viverem com algumas dificuldades económicas, gastam num só dia cerca de 200 euros em raspadinhas, em casas de jogos que já foram quiosques de jornais e revistas, cada vez mais meros adereços.
Se a diminuição das receitas de jogos pode ser apontada como causa da crise, não me parece que seja a principal. Será antes o aumento da procura de apoios e dos custos associados às suas funções verdadeiramente sociais de apoio à infância e aos idosos. Se isto acontece numa instituição desta dimensão, imagine-se os problemas que enfrentam as muitas centenas de pequenas Instituições Particulares de Solidariedade Social (IPSS) que formam a teia nacional de apoio aos idosos. Com aumento brutal de custos, salariais e de funcionamento, estas IPSS não podem fazer repercutir este aumento de custos nos seus utentes, quase sempre com modestas reformas. Pelo cumprimento das regras que tem de cumprir na definição do valor da prestação. A solução terá de passar obrigatoriamente e com urgência, pelo aumento da comparticipação do Estado, um aumento que cubra as obrigações salariais acrescidas e que cubra o aumento dos custos dos produtos alimentares e dos custos de energia.
Os responsáveis devem pegar numa máquina de calcular e fazer as contas entre os custos e as receitas de instituições de solidariedade social, que não têm recursos próprios mas que têm a inestimável missão de prestar apoio de proximidade, dar-lhes o conforto térmico e outro que não teriam nas suas casas. Se nada for feito pelas entidades responsáveis, não tardará muito que fiquem nos braços com incontável número de população idosa e fragilizada.