João Carlos Antunes
Apontamentos da Semana...
SAIU HÁ ALGUMAS SEMANAS, um livro essencial e muito oportuno sobre os perigos que democracia enfrenta num mundo onde a desinformação e a disseminação do ódio nas redes sociais manipula pensamentos, decide eleições e é garante de poder a muito ditador. Falamos do livro Como Fazer Frente a um Ditador – A Luta pelo Nosso Futuro (Porto Editora - Ideias de Ler) da jornalista Maria Ressa, vencedora do Prémio Nobel da Paz em 2021, juntamente com o jornalista russo Dmitry Muratov, pela defesa da liberdade de expressão. Esta aparentemente frágil mulher, nasceu nas Filipinas e cresceu nos EUA onde se destacou como jornalista na CNN. Quis regressar ao seu país natal para enfrentar, sem medo, o ditador Duterte. A sua luta passou pelas denúncias de práticas antidemocráticas e criminosas do ditador, através daquilo que ela sempre fez e lhe deu notoriedade internacional, o jornalismo de investigação na publicação digital Rappler que ela fundou em 2012. O livro relata os muitos golpes que as democracias têm sofrido. E de como a desinformação, gerada através de técnicas sofisticadas de especialistas na arte da manipulação, ameaça a democracia. Maria Ressa mostra como grandes empresas de comunicação (FoxNews é talvez o melhor exemplo) e a complacência do Facebook, Twitter e outras redes sociais, incentivam ou toleram a mentira e disseminam o vírus do ódio, uma emoção que engancha e faz crescer seguidores, uma técnica praticada por gentes que querem manipular as nossas emoções e mudar o modo como nos posicionamos no Mundo. É hoje muito claro que desta forma se influenciaram eleições. E foi a desinformação que despoletou e alimentou a invasão do Capitólio nos EUA e da Praça dos Três Poderes em Brasília, que criou o ambiente em Inglaterra para o Brexit. Nestes tempos conturbados, a (des)informação é um dos eixos fundamentais da luta política. Existe dos dois lados, mas é mais descarada, mais básica, diríamos que quase infantil, a dos grupos populistas ultraconservadores. Talvez por estas suas caraterísticas, por alimentarem o ódio no terreno fértil das redes sociais, estes movimentos ultraconservadores, negacionistas, seguidores das teorias de conspiração, vão arregimentando cada vez mais gente. Gente entusiasta como se viu nos Estados Unidos, na conferência que os reuniu para ouvirem Bolsonaro e Trump, em tiradas oratórias como a de que o povo armado não é escravizado ou a prosápia de que seria capaz de acabar com a guerra na Ucrânia em menos de um dia. Enfim, o livro de Maria Ressa aponta muitas pistas de explicação para os tempos que se vivem na informação. Um alerta para que as nossas opiniões e os nossos votos não sejam manipulados. E traz também um grito de alerta e um pedido urgente da autora: acordemos; aguentemos as pressões; lutemos pelo nosso futuro coletivo – antes que seja tarde de mais.
CASTELO BRANCO, a Cultura portuguesa, todos nós, estamos de luto pela morte do Poeta. António Salvado vai continuar presente entre nós. Antes de mais pela sua poesia, unanimemente considerada património da nossa Cultura coletiva. Mas também pelas marcas perenes de uma presença cívica, de caráter e de convívio que a todos cativou. E vai continuar presente de várias formas, nomeadamente através de iniciativas como o Prémio Internacional de Poesia que leva o seu nome ou a da Associação de Amigos da Casa António Salvado, a sua casa, a casa que terá de ser também a casa da Poesia. À minha amiga Adelaide, como o António amiga de longa data da Gazeta do Interior, aos filhos e familiares, em nome pessoal e no de diretor deste jornal, apresentamos as nossas sentidas condolências.