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Edição nº 1740 - 4 de maio de 2022

Valter Lemos
PUTIN E A UNIÃO EUROPEIA

A guerra na Ucrânia provocada pela invasão daquele país pela Rússia constituiu o ponto de partida para uma reorganização política global que está em curso. O tempo da abertura e globalização vividos nos últimos trinta anos parece estar terminado. A quase livre circulação de pessoas e mercadorias no espaço pan-europeu, desapareceu com a atitude de autoafastamento da Rússia desse quadro de maior liberdade. Com o decurso da guerra o afastamento da Rússia da Europa vai-se acentuando.
Tudo leva a crer que Putin não previa inicialmente esta evolução. Na verdade, os anteriores movimentos bélicos e imperialistas da Rússia como a ocupação da Crimeia, não tinham tido resposta da União Europeia e as relações entre as duas entidades não tinham sido afetadas, continuando o crescimento das relações económicas, especialmente na área energética, com obtenção de vantagens claras para os russos.
O que surpreendeu Putin (para além da resistência ucraniana) foi a natureza da reação europeia. Em primeiro lugar o nível de união interna da UE foi surpreendente, não só para Putin, como para os próprios europeus. Na verdade, os diferentes níveis de dependência energética e a existência de governos de direita radical, nacionalista e até autoritária em alguns países, pareciam ser fortes condicionantes a uma posição conjunta da UE. Mas, a unidade europeia resistiu surpreendentemente a tais factos.
É evidente que, para tal contribuiu fortemente a Nato. Alguns daqueles países são manifestamente críticos da UE, mas precisam do guarda-chuva da Nato para se manterem salvaguardados de ações intervencionistas da Rússia e no caso vertente, a unidade da Nato pressupõe a unidade da UE. Por outro lado, a posição da Alemanha, a maior economia da união e o país com maior dependência energética da Rússia, foi também um forte contributo para a coesão.
Assim, as ações de Putin que pressupunham uma reação pouco unida ou mesmo pouco coordenada da Europa provocaram afinal o contrário. A coesão da Europa foi, sem dúvida, surpreendente, mesmo com alguns países a sofrerem efeitos económicos negativos significativos. E até mesmo o nacionalista Viktor Órban da Hungria, mesmo que com alguma relutância, manteve a unidade de posição da UE.
Os factos que estão a justificar este reforço da unidade europeia são lamentáveis, mas, os seus efeitos podem ser olhados como positivos. A atitude e as ações de Putin parecem estar a fazer pela União Europeia aquilo que os governos e os políticos dos próprios países não pareciam capazes de fazer: o reforço da coesão política e estratégica.
Putin continua a tentar atingir o seu pressuposto inicial de conseguir uma divisão de posição nos países da UE, através de táticas diversas como ameaças a países específicos ou tratamento diferencial como foi a mais recente decisão de corte de gás a alguns países e não a outros. Mas, tal parece estar a produzir o resultado inverso ao pretendido, levando os países da União a conciliar respostas comuns o que vai aprofundando a coesão.
Não há dúvida que, em termos imediatos, a Europa irá sofrer efeitos negativos com esta guerra. É possível uma crise energética e é certa uma crise inflacionista cujos efeitos económicos ainda não são totalmente previsíveis, mas o aprofundamento da coesão europeia, quer no plano político quer no plano económico parece também ser um resultado de médio prazo. E isso, no meio de tantas más notícias, não deixa de ser uma boa notícia.
A União Europeia é uma das mais positivas criações políticas da segunda metade do século XX. É o maior espaço de liberdade no mundo. E é também o espaço económico e social mais desenvolvido. Os povos europeus devem à UE não só a melhoria das suas condições de vida, mas, acima de tudo, a afirmação e fruição de valores humanistas e de coexistência livre e pacifica como não existe em qualquer outra região do mundo. Os egoísmos nacionalistas e as ambições autoritárias tiveram alguma expansão em diversos países nos últimos tempos e foram pondo em causa os valores e a coesão europeia e não deixa de ser curioso que sejam precisamente as loucuras nacionalistas e as atitudes autoritárias de Putin que vêm provocar o efeito inverso.
Esperemos que a guerra na Ucrânia conduza, pelo menos, os povos europeus a perceber melhor o que são na verdade os regimes autocráticos e nacionalistas. Hoje parece claro que há novamente um grande confronto político e civilizacional. Mas não entre capitalismo e comunismo, mas sim entre democracia e autocracia, liberdade e autoritarismo. É por isso que a Rússia tem a simpatia das forças políticas que hostilizam a democracia quer à direita, quer à esquerda. É precisamente por isso que é preciso reforçar o projeto europeu e os seus valores essenciais como a liberdade, a democracia e a coesão social. Para derrotar Putin e para derrotar as forças defensoras das autocracias, dos nacionalismos autoritários, das ditaduras e do obscurantismo político, como felizmente aconteceu recentemente em França.

04/05/2022
 

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