João Carlos Antunes
Apontamentos da Semana...
O RESULTADO DAS ELEIÇÕES FRANCESAS, com a vitória de Emmanuel Macron, fez respirar de alívio os países da Comunidade Europeia, e acredito que a grande maioria dos países democráticos. Porque sobre a França pairavam as sombras negras da extrema direita, agora matreiramente adoçada pela Marine Le Pen. Por agora dissiparam-se as nuvens, mas não para sempre. Macron prometeu já que o seu segundo mandato vai ser muito diferente e que vai dar especial atenção aos fatores que levaram a que tantos eleitores jovens, assim como não desprezável fatia dos eleitores de esquerda e extrema esquerda, se tenham deixado embalar pelas promessas populistas da senhora Le Pen. Como se exige uma reflexão sobre o voto de uma fatia tão importante da classe média e dos trabalhadores das periferias, fenómeno que já de alguma forma se adivinhava, pelo sucesso popular do chamado movimento dos coletes amarelos, pretensamente inorgânico mas evidentemente aproveitado pelos movimentos extremistas de direita. Porque estes 40 por cento, que representam muitos milhões de franceses, podem ser ameaça real para as eleições legislativas que se seguem já dentro de poucas semanas e para as quais a senhora Le Pen já se prepara para colher o fruto da campanha que agora terminou e onde Macron vai ainda enfrentar uma esquerda unida à volta de Jean-Luc Mélechon que já garantiu o apoio do PS francês. No meio deste conflito sangrento que se vive ao menos Putin não viu aumentar o número de governantes que o apoiam ou que, no mínimo, compreendem e dão força às suas motivações bélicas. Em França, como na Eslovénia, onde por estes dias o líder populista e autoritário, amigo de Putin e Viktor Órban, na sua candidatura a quarto mandato foi derrotado por um político jovem e liberal.
ENTRETANTO O SECRETÁRIO-GERAL DAS NAÇÕES UNIDAS, António Guterres, procurou mediar o conflito, reunindo primeiro com Putin e depois com Zelensky. Para muitos críticos, esta iniciativa já veio muito tarde. Mas há que reconhecer que, se se aceita que a iniciativa de Guterres tardou, também sabemos que o secretário-geral pouco poderia fazer já que qualquer medida que se quisesse tomar, teria de enfrentar sempre o Conselho de Segurança onde a Rússia tem assento como membro permanente, com a certeza de que qualquer iniciativa de condenação da invasão seria sempre ali bloqueada pelo país agressor. Entretanto, não se pode acusar Guterres de falta de coragem ao utilizar perante Putin e numa conversa em direto na televisão a palavra proibida. Que a Rússia é agressora porque invadiu a Ucrânia violando a carta da ONU. A provocação e falta de respeito de Putin para com a figura do secretário-geral foi evidente no Kremlin e teve continuidade na Kiev, com ainda maior gravidade. Inqualificável a decisão da Rússia de atacar a capital da Ucrânia com alguns mísseis que provocaram danos e mortos de civis, quando ainda Guterres discursava, depois da reunião com o líder da Ucrânia. Mas parece que o objetivo humanitário da visita de Guterres teve sucesso porque conseguiu-se um cessar fogo temporário que permitiu a evacuação de algumas centenas de civis ainda reféns na cidade mártir de Mariupol.