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Edição nº 1664 - 11 de novembro de 2020

José Dias Pires
BARROCAL O LUGAR E A MAGIA DOS GRANDES DESAFIOS

Os espaços naturais públicos são cada vez mais defendidos pelo que representam enquanto elementos que sustentam e organizam a malha urbana, dado que promovem uma rede distribuidora da continuidade ecológica e cultural que é essencial para a sustentabilidade ambiental de qualquer cidade.
Para que essa sustentabilidade seja efetiva, torna-se necessário uma visão prospetiva que contemple a definição de corredores ecológicos (linhas de água, parques e jardins, manchas arborizadas em vias públicas e noutras áreas livres de edificação) que se relacionem com o património construído e natural que integra a malha urbana e semiurbana.
Os espaços naturais urbanos devem permitir o contacto com a natureza e possibilitar um ambiente mais saudável, funcionando como “pulmão” do tecido urbano e estimular um sentimento cívico de pertença.
Sabemos que ainda há muito para fazer e gostemos ou não das soluções encontradas, é incontestável que há em Castelo Branco uma visão estratégica e uma prática de concretização dessa visão nas quais os espaços naturais e os espaços verdes urbanos assumem uma crescente importância na política municipal. Importa que essa preocupação seja acompanhada por uma lógica de um contínuo vivificador de todo o tecido urbano e que consiga uma ligação coerente com o espaço rural envolvente.
Durante demasiado tempo ignorado, por alguns dos que agora criticam as soluções encontradas, por estratégia meramente política, e por outros que legitimamente o fazem com fundamento, o Barrocal é um lugar que contém, desde há muitos anos, a magia desses grandes desafios.
Gonçalo Ribeiro Teles designava-os por continuum naturale, baseados na necessidade da paisagem natural penetrar na cidade de modo tentacular e contínuo, assumindo diversas formas e funções: espaço de lazer e recreio; enquadramento de infraestruturas; criação de “corredores verdes” que integrem caminhos pedonais; áreas de interesse ecológico que permitam o funcionamento dos sistemas naturais e assegurem a ligação da paisagem envolvente ao centro da cidade, numa lógica de rede que integre os espaços que constituem os equipamentos coletivos verdes e de maior dimensão.
Ao Barrocal, como a todos os outros espaços naturais e verdes da comunidade albicastrense, existentes ou em fase de edifi-cação, é natural que se exija que desempenhem também funções culturais, de integração e enquadramento comunitário, didáticas, de lazer e de recreio, incentivando, assim, as pessoas à apreensão e vivência desses lugares.
Na verdade, os espaços defendem-se a si mesmos quando têm pessoas que os preencham e que neles se sintam preenchidas.
Apesar do reconhecimento das funções essenciais que devem associar-se aos espaços verdes e aos espaços naturais, a sua implementação está sujeita a múltiplas ameaças, entre as quais se destaca alguma falta de educação para a cidadania que permita a compreensão e o respeito que todos lhes devemos.
Foi por essa falta, acompanhada pelo desinteresse autárquico de tempos ainda não muito distantes, que o Barrocal da minha infância e da minha adolescência se degradou.
As pedras enormes e desafiantes onde vivi com os meus melhores amigos aventuras bem imaginadas e que hoje aos olhos dos cientistas indiciam e a presença de um Santuário Rupestre ao ar livre e prática de atividades profanas e sagradas onde habitaram os homens daqueles tempos; as aves que espreitávamos com os binóculos de um de nós: os papa-moscas-pretos; os tordo-pintos e os pisco-de-peito-ruivo; as árvores às quais os mais ágeis conseguiam trepar: os carvalhos, os sobreiros e as azinheiras; as plantas onde descobrimos bagas comestíveis ou aromas intensos: o pilriteiro, o rosmaninho e a hortelã-brava; as charcas onde muitos aprendemos a nadar; todas estas componentes depois dos maus tratos e do abandono a que foram votadas, são, a partir de agora, obrigação cuidadosa e cuidadora de todos nós, porque têm a relevância de um passado humano que remonta aos finais do 2º milénio e inícios do 1º milénio a.C. (antes de Cristo).
Já não há desculpa para o descanso na obra feita baseado na presunção (que não se espera), o desprezo pela obra feita verbalizado pela maledicência sem substrato (que não se aceita), ou o desinteresse pela forma como a obra se fez, cuja legítima e fundada crítica se respeitam (que não se compreende).
Todos, cidadãos comuns, autarcas, membros ativos das diferentes associações e instituições albicastrenses, temos o direito e a obrigação de olhar para o Barrocal sem viseiras nem espelhos de repetição, e contribuir, na medida do que a cada um for possível, para salvaguardar e promover o que nos é oferecido e propor, para melhorar, o que for necessário.

11/11/2020
 

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