Edição nº 1649 - 29 de julho de 2020

COM ILUSTRAÇÕES DE ROBERTO CHICHORRO
Antologia de Gonçalo Salvado celebra a mulher negra

A antologia de poesia Nigra Sum - A Mulher Negra na Poesia de Amor Lusófona do Século XVI ao Século XXI, organizada pelo poeta Gonçalo Salvado, acaba de ser publicada, numa edição da Lumen  e da Livraria Sá da Costa Editora, de Lisboa, em parceria com a Quinta dos Termos. A antologia, agora lançada em estreia, insere-se numa coleção de poesia, única no panorama editorial português, em que as obras surgem em original formato livro/garrafa.
O livro conta com capa e desenhos de nu feminino, concebidos para o efeito por Roberto Chichorro, consagrado artista Moçambicano, sendo que na sua obra o feminino e o erótico ocupam um lugar de relevo. A obra inclui ainda um texto de abertura de Maria João Fernandes.
A antologia evoca no título um versículo do Cântico dos Cânticos, célebre poema de amor do Antigo Testamento, na tradução latina da Vulgata: Nigra Sum, sed Formosa (Sou Negra, mas formosa, ou Sou Negra, e formosa). Reúne alguns dos mais significativos poemas amorosos em língua portuguesa. Mais concretamente portugueses, africanos e brasileiros, dedicados à mulher negra, alguns com referências ao tema do vinho, atendendo à especificidade da coleção, acompanhados por notas biográficas de cada autor.
A obra, pretende constituir-se como uma homenagem a Sulamita, a figura feminina referida no Cântico dos Cânticos, e a Bárbara escrava, celebrizada no poema imortal de Camões. É essencialmente um hino de louvor à mulher negra e um contributo literário contra o preconceito racial, sendo o racismo um dos temas de atualidade, este ano, no Mundo inteiro.
Para Gonçalo Salvado, “erigida como um dos símbolos privilegiados da sensualidade feminina, a mulher negra sempre despertou o fascínio, o encantamento e a paixão dos nossos poetas de todas as latitudes e de todos os tempos. Já enaltecida no Cancioneiro Geral de Garcia de Resende, editado em 1516 e até aos nossos dias, ela inspirou aquele que é talvez o mais belo e sublime poema de amor escrito em língua portuguesa, as célebres endechas Camonianas que consagraram para todo o sempre, nas nossas letras, não apenas a sua beleza física, capaz de acender o mais ardente desejo mas, igualmente, a irradiação da sua alma que tem vindo a inspirar o mais puro amor”.
De referir que não é a primeira vez que o autor associa numa obra o Cântico dos Cânticos à poesia de Luís de Camões. Gonçalo Salvado é autor da transcriação/antologia Camões Amor Somente, publicada em Salamanca, Espanha, em 2000. O livro é uma tentativa de construção de um Cântico dos Cânticos e de uma arte de amar em língua portuguesa a partir de fragmentos da lírica, da épica e da dramaturgia Camonianas.
A pré-apresentação da antologia Nigra Sum, está marcada para a próxima sexta-feira, 31 de julho , dia em que se comemora o Dia da Mulher Negra Africana e consistirá numa breve intervenção gravada de Inocência Mata, escritora Santomense, professora universitária e investigadora e especialista em Literatura Africana, galardoada com o prémio Fémina, em 2015. A intervenção gravada será exibida na página de Facebook da editora Lumen.
No texto de abertura, Maria João Fernandes destaca que “a antologia Nigra Sum, organizada pelo poeta Gonçalo Salvado no ano em que o racismo tem estado em causa, manifesta uma vez mais a fidelidade do autor à temática amorosa que está no cerne da sua obra poética e da sua investigação. Para além de uma homenagem à mulher negra, esta obra é um verdadeiro manifesto poético a favor da universalidade do arquétipo do feminino e da beleza que lhe está associada. Uma verdadeira sinfonia a muitas vozes onde sentimos ecoar em pano de fundo a ancestralidade do continente africano, o exotismo de uma natureza cúmplice e selvagem que parece ter guardado o esplendor paradisíaco das suas origens”.

29/07/2020
 

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