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11 de dezembro de 2019

José Dias Pires
REORGANIZAR O INSTITUTO POLITÉCNICO DE CASTELO BRANCO: UM FECHAR OU ABRIR DE PORTAS?

As portas são o acesso, as boas vindas (quando se abrem) e o limite, a despedida, (quando se fecham) - nas casas.
As portas são a aceitação e a afirmação do sucesso (quando se abrem) e a compreensão e a resignação do insucesso (quando se fecham) - nas instituições.
Criar uma escola e abrir-lhe as portas sempre representou no IPCB a confiança no futuro desenhado por um laborioso trabalho preparatório do percurso, em todas as vertentes: patrimonial; instrumental; administrativa; científica; pedagógica e sociológica.
Depois, obrigada a organizar-se com coerência interna e externa, a crescer, a amadurecer e a dar fruto, qualificando o seu corpo docente, para poder alargar e melhorar e diversificar a sua oferta formativa sem perder o rumo e a matriz fundadora, a escola criada provaria, ou não, junto da comunidade próxima, sem perder horizontes nacionais e internacionais, o merecimento da manutenção das portas abertas ou a penalização das portas fechadas.
Pelo que pude ler da proposta de reorganização do IPCB apresentada e aprovada no seu Conselho Geral, tenho extrema dificuldade em me aperceber que alguma das escolas do IPCB mereça portas fechadas e determine o esforço de descortinar novos edifícios institucionais nos quais se possam abrir as portas de um futuro mais proficiente, eficiente e eficaz.
A compreensão da necessidade de melhorar a economia de escala não invalida um conjunto de perguntas fundamentais:
- Constituir nove departamentos, mesmo que cada um concentre uma ou mais áreas de conhecimento de acordo com a Classificação Nacional das Áreas de Educação e Formação, que economia de escala produzirá na área dos recursos docentes?
- Associar departamentos será a condição necessária e suficiente para a criação de novas escolas e o desenho de novos percursos formativos, ou é antes a inversão perigosa do processo, e o exponenciar todo o tipo de custos?
- Não me lembro de alguma vez ter lido, ou ouvido, que em Portugal ou no mundo se criaram escolas a partir de departamentos, associados ou não, mas o erro pode ser meu, admito.
Podem ter-me ensinado mal, ou fui eu mau aprendiz, mas ainda hoje estou convicto que numa escola de ensino superior (ou numa faculdade) os departamentos asseguram a possibilidade, a efetividade e a qualidade do ensino e da investigação, possibilitando aos alunos uma formação estruturada nas áreas que lhes dizem respeito, determinando, dessa forma, competências nos campos da expressão e comunicação, das relações entre ciência, tecnologia, sociedade, ética, organização do trabalho e empre-endedorismo, estarei errado?
- Criar novas escolas numa estrutura bem cimentada, foi uma boa prática do IPCB cujos resultados foram e são reconhecidos nacional e internacionalmente - veja-se o caso da ESART. Mas acabar com todas as seis escolas (não consigo descortinar que não seja assim) para criar quatro novas escolas que resultarão, por certo, da associação de algumas das anteriores (em alguns casos, pode quase não passar da mudança da sua designação ou não - mas, sobre esta matéria, não existe nenhuma proposta em concreto), não comportará procedimentos demorados, de elevada complexidade e superior exigência, cuidado e fundamentação, durante os quais o IPCB arrisca perder-se nas traseiras do pelotão da competitividade politécnica?
- Fundamentadamente, esta reorganização que inovações formativas representa? E que manutenções formativas determina?
Dito de uma forma mais simplista: vamos ter novos cursos e novas profissionalidades e quais? Vamos manter quais dos “velhos” cursos e porquê?
- Que atratividade diferenciada se perspetiva com a reorganização que virá?
- Que empresas, organizações e instituições comunitárias contribuíram para a sua definição?
- Que, como e onde se preserva a memória histórica e institucional das portas que se fecham?
Acredito que um processo de reorganização não radical poderá até representar uma vantagem para o IPCB. Mas é importante que todos (docentes, alunos, funcionários e comunidade) o percebam, e aceitem. Só assim poderá consubstanciar-se num projeto e num processo mobilizador e integrador baseado numa afirmação de um passado com consistência no presente e dotado de uma visão de futuro.
O IPCB de hoje e de amanhã, obriga-se a perceber que o IPCB de ontem e de hoje é composto por instituições que já o eram antes do IPCB ter sido criado e que não devem, porque não merecem, ser negligenciadas.
Neste momento tudo me parece resumir-se a uma conjunção estratégica e tática de algumas vontades e de muitas necessidades.
Contudo, uma tática apenas esperta nunca serviu estratégias por mais inteligentes que pareçam ser.
Reorganizar o Instituto Politécnico de Castelo Branco: um fechar ou abrir de portas?
Veremos as respostas e, se necessário, perguntaremos mais.

11/12/2019
 

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