Antonieta Garcia
QUE TEMPO ESTE!
Conceitos com garantia secular, válidos para tantas gerações, caem agora em três tempos. Victor Hugo dizia: “abrir uma escola é fechar uma cadeia”. E não fora a civilizadíssima Alemanha, então o mais letrado dos povos da Europa, ter liderado o Ho-locausto e apetecia fazer de tal afirmação um dogma. Lembram-se, porém, nazis que torturavam, assassinavam. Os mesmos que nos corpos dos presos faziam experiências indescritíveis para aprofundar o conhecimento médico; aproveitavam a pele humana para confecionarem abajures; com o cabelo teciam panos e forros para botas; ativaram câmaras de gás para matar de forma económica… Em suma, somaram-se horrores tais e tantos que, seguindo o conselho de José Régio, “será bom ter pudor de contar seja a quem for…”.
E à noite, tranquilamente, ouviam Mozart, Wagner… Corações empedernidos podiam poupar à morte uma bailarina, enquanto dançasse bem, para animar qualquer festividade; um pintor interessava se, com a sua arte, favorecesse o ambiente; um pianista, se pusesse ao dispor o seu saber e fazer para satisfação de exigentes e cruéis seguidores de Hitler. Ser letrado não humanizou os campos de concentração. O que ensinara a escola? Todavia, houve também gente capaz de heroísmos sobre-humanos que saiu vitoriosa na luta inominável que travou contra a barbárie nazi.
Sabemos que não foram os livros escolares que corromperam os delinquentes; acresce que não se conhece outra instituição mais apta a intervir na inserção social de quaisquer infratores.
E hoje é reconfortante conhecer gente nova que iça bandeiras para edificar um mundo melhor. Ora, ouçam-se as vozes de moças oriundas de espaços geográfico-culturais distintos:
- Malala Yousafzai nasceu no norte do Paquistão, em 1997. No seu meio, o “destino” obrigá-la-ia a casar cedo. Malala queria estudar. A família estimulava-a. Quando fez 10 anos, viu encerrar as escolas. Resistiu. Defendia o direito das mulheres à educação e desobedecia; clandestinamente ia às aulas. Ameaçaram-na. Aos 15 anos, foi gravemente ferida. Internada em Birmingham, sobreviverá ao atentado. Porta voz de uma causa - o direito à educação - ouviu-se na ONU, aos 16 anos, perante representantes de mais de 100 países: “Os nossos livros e canetas são as armas mais poderosas. Uma criança, um professor, um livro e uma caneta podem mudar o mundo. Educação é a única solução”. Malala sabia do que falava!
- Greta Thunberg nasce em 2003, na Suécia. Empunha outro estandarte: salvar o planeta. Ativista pelo direito dos animais, em 2018, no 9º ano, decide fazer greve à escola, depois de “ondas de calor e incêndios”, ocorridos no seu país. Alertava para a necessidade de reduzir as emissões de carbono, alargou a consciência face à emergência climática, acusou, denunciou, conquistou a atenção mundial. Defendia: “Greve à escola pelo clima”. Todas as sextas-feiras!
A melhor aliada da humanidade na divulgação do saber, na mobilidade social, fechava-se semanalmente como forma de protesto? Contra quem? Porém, em Madrid, na última Cimeira do Clima, Greta assentiria que os jovens não podiam continuar a faltar à escola – “não é sustentável!”. Pois não. Há outras formas de luta se a demanda for por um mundo mais fraterno.