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13 de novembro de 2019

Antonieta Garcia
O OUTONO E SÃO MARTINHO

O outono é um grisalho simpático, sedutor. A partir de outubro, inicia os convites ao vento, como músico e coreógrafo, e às folhas que se soltam enlouquecidas…. Olha como levantam voo, se encontram, abraçam e bailam, rodopiam... Quando se cansam, aconchegam-se num qualquer murito protetor. Em breve, a rua e o caminho estão atapetados de dourados, castanhos, grenás. Encanta pisar este manto de tonalidades quentes, respirar o aroma do ar e esperar que a luz sonolenta se esfiape cedo, como seda frágil, ao sol que espreita e se deleita com a partitura outonal. A sinfonia é complexa; a alma europeia soa em soluços doridos ou empunhando resistências entranhadas durante séculos, em demanda de mais humanidade.
Em casa, ao quentinho, lê-se, em sossego. O livro, em cima dos joelhos, alivia o tédio. Inventa intimidades com as personagens, as paisagens, desenha uma viagem interior, pessoal. O outono gosta de ler, de preguiçar, de escutar, de ternurar. Escondido na leitura tece caminhos e carinhos abertos. Um cheiro, um som, uma luz, despertam pedaços de vida.
Lá fora, a alegria da colheita das uvas maduras anuncia a delícia dos bagos mordidos um a um. Nas vindimas, eles cantam amores trocados e perdidos: “Não se me dá que vindimem, / Vinhas que eu já vindimei. / Não se me dá que outros logrem, / Ai, amores que eu rejeitei. //” Outros quereres estão vivos e são fruídos: “Estou debaixo da latada, / nem à sombra, nem ao sol. / Estou ao pé do meu amor, / Ai, não há regalo maior. //”
Na quietude outonal, os vermelhos do mosto novo, a espuma do vinho, chamam harmónios para o baile mandado e para o que cada um escolhe.
Ouve-se de outro lado: Já chove! Ainda bem, para os “frades” saírem da terra!
O festival gastronómico de outono não dispensa cogumelos. No Alcaide, castanhas quentes e boas, mais os míscaros e a “jergolinha” aquecem o corpo e os corações.
Bem precisados estamos. Não fora um conjunto de criaturas mal-aventuradas ter assomado ao poder e, deste jeito, percorríamos uma espécie de antecâmara de um paraíso à nossa medida. Como ignorá-las, se o rol tem crescido e têm sido notícia pelas piores razões?! Já não se escondem. Militam em Partidos que defendem, por exemplo, que o holocausto, tem aspetos positivos!!! O que aprenderam com a Segunda Grande Guerra Mundial, com os campos de concentração, ghettos…? Dizem que querem salvar-nos. Das alterações climáticas, dos plásticos, do tabaco, das viagens de avião, dos alimentos malditos (sobretudo a fatal carne vermelha, mais o açúcar, as gorduras e o sal que metem a todos no inferno), dos sapatos em pele de bicho, do número de deputados…. Quantos chegam?
Mal-aventurados puro-sangue garantem pugnar pela “formação” de cidadãos saudáveis e convertê-los a boas causas. Quais? Aceitam-se e apoiam-se migrantes ou temem-se as diferenças e deixam-se morrer, com a consciência tranquila, em vias de Tormentos? A luta pelos Direitos do Ser Humano, marca identitária da Europa, quem lhes acode? Assusta perceber que, no Parlamento Europeu, os seus defensores já estão em minoria.
Valha-nos, São Martinho! Conhecedor da humana condição, rasga a meio a sua capa para partilhar com um sem-abrigo o conforto possível. E veio o Sol, a Luz – o verão de São Martinho – um reconhecimento dos Deuses. Na poética das festas, o povo escolheu o dia do Santo, para ir à adega a provar o vinho novo e a festejar a humanidade.
Valha-nos São Martinho que ainda é padroeiro de magustos regaditos com jeropiga ou moscatel de Setúbal, vinho do Porto ou ginjinha, e é celebrado com a prova de vinho novo em apelo à fraternidade. Não fora esta esperança…

13/11/2019
 

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