| Ano |

Error parsing XSLT file: \xslt\NTS_XSLT_Menu_Principal.xslt

18 de setembro de 2019

Lopes Marcelo
VIVA O CANCIONEIRO TRADICIONAL POPULAR

Os leitores que têm acompanhado os temas mensalmente abordados nesta janela do Mosaico Cultural, terão notado alguma insistência na abordagem do mundo rural. De facto, considero importante a divulgação e valorização da matriz cultural das nossas comunidades locais. Nunca concordei com a interpretação elitista, até há algum tempo dominante na nossa sociedade, de que foram saindo das nossas aldeias e vilas as pessoas mais instruídas e competentes, tendo ficado os menos capazes. Embora com menos instrução académica, não considero essas pessoas menos cultas. Sabem mais de outros alfabetos, ligados às tradições, às actividades rurais e às tecnologias artesanais. Dominam e expressam com sinceridade os seus experientes e intuitivos alfabetos funcionais, ou seja, os seus saberes, modos de sentir, de ser, de fazer, de cantar e de falar.
É neste contexto que venho assumindo a divulgação de várias vertentes do rico património tradicional imaterial, identificado e recolhido no concelho de Penamacor e publicado recentemente no livro intitulado, À Lareira da Memória. Em complemento, está a ser preparada a edição da gravação à capela de mais de uma centena de cantigas originais e inéditas, visando que não se perca tão rico património.
Tendo em vista a valorização e a divulgação deste precioso cancioneiro genuíno, voltamos a algumas cantigas, mencionando o respectivo entorno social e componentes etnográficas.
1 . A vida do trabalhador
É sabido que o trabalho no campo era pesado, realizado de sol a sol e mal pago. Era enaltecida a capacidade de trabalho, de resistência e sofrimento silencioso. Contudo, o povo já há muito que desabafava cantando assim:

A vida do trabalhador
É uma vida amargurada.
Desde o nascer até ao pôr
A puxar pela enxada.

Ó minha mãe dos trabalhos
Para quem trabalho eu?
Trabalho, mato o meu corpo
Não tenho nada de meu.

Quem a mim me ouvir cantar
Julgará, não julga bem.
Julgará que estou alegre
Meu coração penas tem.

2 . Sim flor, sim cravo
Na vertente do enamoramento, nas cantigas de amor, a sinceridade e o tom jocoso, faziam parte do jogo espontâneo em que se enlaçavam vontades e vidas. Contudo, algumas verdades não muito convenientes, não ficavam por dizer:

Sim flor, sim cravo,
Sim flor, tu é qu és o meu namorado.
Sim cravo, sim flor
Sim cravo, tu é que és o meu amor.

Minha sogra ralha, ralha,
Eu bem a ouço ralhar.
Meta o filho na gaveta
Que eu não lho vou lá tirar.

Minha sogra disse que disse
Se ela disse eu não ouvi.
Que andava a criar um filho
Mas não era para mim.

Minha sogra tem mau gosto
Gosta da cor amarela.
Ela não gosta de mim
Eu não gosto nada dela.

3 . ó espiga, ó espiga
Nesta cantiga sobressai a sabedoria e a ironia populares ligadas ao contexto das actividades produtivas.

Ó minha mãe case-me cedo
Ó ai enquanto sou rapariga.
Ó ai que o milho sachado tarde
Ó ai não dá palha nem espiga.

A minha mãe para me casar
O´ai prometeu-me três ovelhas.
Ó ai uma é cega, outra é coxa,
Outra troncha das orelhas.

18/09/2019
 

Outros Artigos

Em Agenda

 
01/05 a 31/10
50 anos de abril: em cada rosto igualdadeMuseu Municipal de Penamacor
12/06 a 31/10
Uma Poética ResistenteMuseu Francisco Tavares Proença Júnior, Castelo Branco
tituloNoticia
29/06 a 05/08
LilithGaleria Castra Leuca, Castelo Branco
10/07
Áleas do JardimMuseu Francisco Tavares Proença Júnior, Castelo Branco

Gala Troféu Gazeta Atletismo 2022

Castelo Branco nos Açores

Video