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11 de setembro de 2019

Antonieta Garcia
O PAD’ZÉ

Alberto António da Silva Costa, mais conhecido por Pad’Zé, nasceu em Aldeia de Joanes, a 15 de abril de 1877.
Aceitemos o seu convite: “Passeia pelas ruas da terra, queda um pouco os teus olhos de “touriste” e de artista no grandioso monumento da histórica vila – o chafariz das oito bicas – precioso trecho bizantino (…). Entra de seguida na farmácia Campos (…) e não te recuses, mesmo se assim t’o exigir o bom patriota José Maria Barbosa, a confessar amavelmente que o Fundão é a Sintra da Beira.”
Estas sugestões leem-se com um sorriso; sem abandonar o habitual tom sarcástico, os afetos mostram-se. Falava do espaço da infância, do tempo da escola primária, da aprendizagem do francês, e do “piano sob os ensinamentos bissemanais do mestre Pinho, da Covilhã.”
Entre 1890-93, frequenta o Colégio de S. Fiel; a tristeza marca “os três anos que lá passei, nos claustros sombrios dos Jesuítas.” Critica-lhes os métodos “pedagógicos”: “A bofetada, a ripada, a palmatória, a corda de nós, e ainda o croque caviloso e sub-reptício ao que dorme sobre a carteira, constituem em termos gerais, a educativa ferramenta do ofício. Alude ainda às notáveis ampliações sofridas pelos dois graciosos pavilhões auriculares (…) a forte régua de pinho, e do ponteiro do quadro preto e dos mapas.” (Alberto Costa, O Livro do Dr. Assis).
Ora, durante umas férias, o jovem foi “arejar” a Lisboa. Confessa: “não tardou que na terra topasse celestiais gozos arroubados nos braços de uma sardenta da Betesga…”. A carreira eclesiástica ficou, então, deveras combalida. A matrícula no Liceu da Guarda desmentiria igualmente…” em ceatas e zaragatas, a minha fervorosa vocação mística…”. Perante os factos, o pai decide que, antes de ingressar na Faculdade de Direito, “permaneceria em casa, durante um ano, a amadurecer”.
Pad’Zé será bem recebido na Lusa Atenas; a reputação, criada na Guarda, de amante da vida boémia conferira galões que os colegas divulgaram. Na cidade universitária, rapidamente se instala na República Açoriana, fascinado pela vida fraternal/estudantil. Explicará que aí lhe foram “impostas as insígnias da antonomásia” que o identifica “aos olhos dos estudantes e da academia”, como Pad’Zé, por haver frequentado o Seminário e – autobiografa-se rindo-se! - “em homenagem às minhas afinidades místicas, à minha face rapada de clérigo e aos meus óculos faiscantes de excogitador de textos bíblicos”.
Na cidade do Mondego, participa em tertúlias e convive com Afonso Lopes Vieira, Alberto Pinheiro Torres, D. Tomás de Noronha, Egas Moniz… Para colher umas quantias, elabora a Revista do Civil que vende, depois, a estudantes da Universidade.
É, porém, “O Livro do Doutor Assis” que o celebriza. O protagonista da obra é o “original catedrático” António de Assis Teixeira de Magalhães, regente das cadeiras de Direito Civil, Direito Eclesiástico e Finanças…” A senilidade do ensino coimbrão é um dos tópicos fortes da obra. Explica: “A feição pedagógica do Doutor Assis representa o substractum das mais notáveis qualidades que abrilhantam a maioria do professorado do nosso primeiro estabelecimento de ensino superior – maioria que é como ele autoritária, dogmática, ronceira, inculta, retrógrada – e, como ele também, subtil e profunda em seus dizeres, conforme vo-lo demonstrarão as páginas seguintes.”
São muitos os exemplos de caricatura e de ironia presentes nos “dizeres” do professor. Elucida Pad’ Zé: “Clareza e simplicidade são seu lema; e é em obediência ao princípio do menor esforço que o mestre cita assim: - Paul Leroy-Beaulieu…, ou, mais simplesmente, Leroy-Beaulieu… perfeitamente redutível a Beualieu…”. Conclui: “E neste ponto já não se apura bem se o Doutor cita um nome, ou solta um zurro…”
As charadas atribuídas ao mestre de Direito, um símbolo do magister dixit, do obscurantismo e do dogmatismo intelectual, a crítica ao ensino ministrado na Universidade, tornam Pad’Zé uma referência na vida da cidade doutora. Será lido e citado por várias gerações de estudantes. Personalidade adoradora da ironia, será um dos líderes da organização do Centenário da Sebenta. Uma voz da Beira que enriqueceu a Alma Mater…

11/09/2019
 

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