24 de abril de 2019

João Carlos Antunes
Apontamentos da Semana...

NA PASSADA SEMANA O PAÍS deu conta de que havia em Portugal um movimento sindical com cerca de 800 associados de que nunca antes ouvira falar, até pela sua ainda curta existência, capaz de fazer parar o país com a marcação de uma greve por tempo indeterminado. Esta greve do Sindicato Nacional de Motoristas de Matérias Perigosas (SNMMP) exige alguma reflexão da parte de todos nós. Uma primeira, sobre o cada vez mais frequente surgimento de sindicatos que atuam fora das estruturas sindicais tradicionais como a CGTP ou a UGT, por isso mais difíceis de enquadrar. Já se viu isso com a greve dos enfermeiros e agora com a greve dos camionistas. Uma reflexão necessária é a de que, quer se goste ou não, estes novos sindicatos têm uma capacidade de atração assinalável, com os tra-balhadores a já não se reverem nas práticas dos sindicatos tradicionais. Depois há que refletir sobre o movimento de pânico que se gerou e que mostra como ainda há um caminho muito longo a percorrer na construção de uma cultura de cidadania. Quem acredita que muitos dos milhares e milhares de automobilistas que entupiram e esvaziaram em poucas horas as estações de serviço, necessitavam mesmo dos depósitos cheios nas suas viaturas? Aliás a atitude serena do governo em toda esta crise faz-me crer que havia movimentos de bastidores para por os dois lados em conflito numa rota de entendimento, tal como viria a acontecer antes do fim de semana prolongado, provavelmente mérito do ministro Pedro Nuno Santos que já havia mostrado a sua habilidade negociadora na construção da gerigonça. E finalmente, não se pode falar desta greve sem se referir o nome do advogado Pedro Pardal Henriques, vice-presidente de um sindicato de motoristas, sendo que nunca guiou um camião e se apresenta num flamante Mazerati. Com a curiosidade de a sede do sindicato ser mesmo no seu escritório de advogado, com uma atividade profissional que está rodeada de situações pouco claras… Não sendo ilegal toda esta situação, é no mínimo estranha…

FAZ ESTA SEMANA 45 ANOS que a liberdade saiu à rua, num dia assim de ameaça de chuva e ainda frio a pedir camisola de lã e casaco. Acabavam naquela madrugada quarenta e oito anos de ditadura e isolamento de um Portugal rural e miserável. As novas gerações dão a liberdade e a democracia por adquiridas, que já nada vai voltar para trás, mas a recente e crescente onda populista e autoritária que se tem espalhado como peste um pouco por todo o mundo, mesmo na velha Europa, torna indispensável avivar a memória dos que nasceram e cresceram em democracia, criar todas as condições para que eles sejam cidadãos críticos, participativos, capazes de levantar bandeiras por causas nobres e justas. Lembrar que na altura da revolução dos cravos, em 1974, havia 94 médicos por cada cem mil habitantes, que sessenta e três por cento dos partos se faziam em casa, com mais de dez mil bebés a morreram no primeiro ano de vida, que apenas quarenta e sete por cento das famílias tinham acesso a água canalizada, que tínhamos um milhão e oitocentos mil analfabetos e vinte e sete mil estudantes matriculados no ensino secundário… Sem esquecer a polícia política e a censura, bom é pensarmos que os nossos políticos podem não ser de todo impolutos, mas que temos a liberdade de criticar, publicar e votar. Coisas de somenos importância, dirão alguns, mas parafraseando Sérgio Godinho, coisa mais preciosa no mundo não há… Bom 25 de Abril para todos os leitores da Gazeta.

24/04/2019
 

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