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13 de março de 2019

Antonieta Garcia
BACALHAU DE SUA GRAÇA…

O bacalhau agrada à maioria dos portugueses. São poucos os esquisitos que não se deleitam com tal manjar. De resto, como maldizer um peixe cujas qualidades lhe valeram o título de “fiel amigo”? Não foi pera doce tal conquista! A inveja, ali ao lado, pouco pode fazer perante a evidência dos factos. Como competir com o bacalhau que se oferecia, ao longo de todo o ano, em “mil e uma” receitas? Seco ou fresco, cru, em salada, cozido, grelhado, assado, guisado, à Brás, à Gomes de Sá, à moda da avó, com natas…, em pastéis de bacalhau, pataniscas, rissóis… acompanhado não importa com o quê, estava/está sempre ali à mão…. É chefe em gastronomia. E quem o dispensa na noite de Consoada, quando a tradicional frase afirma uma velha verdade: “Hoje as batatas cozidas com bacalhau e couve portuguesa têm outro sabor?!!” Não foi fácil a saga do salvador da cozinha portuguesa, para conquistar tais estrelas!
Descobriram-lhe um defeito: o fígado tinha propriedades excelentes e garantia a saúde de pequenos e graúdos! Não tinha dúvidas, quem obrigava a engolir o intragável óleo…. Todavia, passadas décadas, a lembrança do sabor e insuportável aroma ainda desperta enjoo; foi um esconjuro ciumento que lhe deixou esta sina: imperador na cozinha, ruão em medicação.
E venceu noutros domínios! Palavra polivalente, um bom aperto de mão é também um bacalhau! Mas por que cargas de água ficar “em águas de bacalhau” significa perder todas as expectativas? “Para quem é bacalhau basta” é outro desprimor de zíngaros e pangaios ao bom peixinho. Já as perliquitetes adoram-no, porque seco ainda é novo, e até sabe melhor, se a cura for amarela, a única vez que esta cor vale para aperfeiçoar. Certo é que a cozinha portuguesa firmou jurisprudência e, assim ou assado, não o dispensa.
Para ser mais original, o “enterro do bacalhau” com honras televisivas, é festa meia marota. Fazem-lhe, antes, o julgamento, no Carnaval ou durante a Quaresma. Festividade ligada à expulsão do Inverno? O Entrudo anuncia a entrada da Primavera, o renascer da Natureza, os dias de sol, a vida? Paira por aqui uma morte e a certeza de uma ressurreição?
Afinal, estes enterros (do bacalhau, do galo), a serração da velha… têm qualquer coisa a ver com celebrações pagãs, primaveris, o afastamento do velho e boas vindas ao novo! E se há morte, há testamento, que é lido na Praça pública. Há denúncias de injustiças, de maus tratos, maus costumes que a comunidade gera; escolhido o responsável por todos os males, o pobre defende-se, como pode, das acusações certeiras; mas acaba condenado, sem apelo nem agravo, por pouca culpa que tenha. Ora ouvi, as alegações do bacalhau:
“Camaradas, companheiros / sardinhas e carapaus, / peixes bons e outros maus /, bichos da elite do mar: /Não sei no que isto vai dar / É a minha vez de falar. /
Eu não sou fraco, nem forte. / Agora, estou sem norte, / A pouca sorte agarrou-me. / Mas se a morte está à espreita / maldigo bruxas, serpentes, com línguas de fel, medonhas! / Esconjuro a velha peçonha / de cobrachas e lagartos. / Maldigo Demos malvados, esses lobos disfarçados de cordeiros receosos. / Meteram-me na política pelo título de nobreza: fiel amigo de todos, à esquerda e à direita /, julgaram-me camaleão. /A isto, eu pus um fim / Só sou fiel na cozinha e confesso a minha falha. / Por mim, entro / onde bem calha sem partidos à mistura /. Já me chega para tortura banquetes eleitorais, e a fome que os recria! / Bacalhau de minha graça… Ai, como o tempo passa!!! /
Lego aqui, em testamento, justiça de Salomão: deixo as palmas às mulheres, por uma questão de justiça; são as guardiãs da luz. E tudo o mais que quiserem / E em sonho se satisfaça. /A sorte foi-lhes madrasta / e nas voltas de más sinas, / Ninguém se aguenta, meninas! / É a desgraça da farsa / que já cansámos de ver //. Só quem não tem medo, opina / Leva a guerra ao poder/. Mas uma diva do canto / há de cantar, no sarau, a opereta do futuro. Solista canta e encanta: - Bacalhau bom e magriço / Guarda longe o mealheiro. / Procura chama de jeito / E com alho e muito azeite / Serve a receita da Paz (…).
A função acaba aqui: no barco bacalhoeiro, o fado, velho gaiteiro, soa cortês, a trovar a sorte do bacalhau e a sorte do marinheiro!

13/03/2019
 

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