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13 de março de 2019

ANTÓNIO SALVADO APRESENTA TEXTOS DO PEDAGOGO
Ainda sobre o colóquio Relembrar e homenagear Faria de Vasconcelos

A sessão Relembrar e homenagear Faria de Vasconcelos, realizada dia 2 de março, contou com a apresentação de uma comunicação, por António Salvado, que se destacou pelo seu conteúdo de relevante pertinência.
A comunicação englobou a análise exaustivamente pormenorizada de quatro textos cedidos ao palestrante pela viúva do ilustre pedagogo, D. Celsa Quiroga de Vasconcelos, e publicados, como ainda inéditos, na revista Estudos de Castelo Branco, da qual era director o poeta Albicastrense. Por serem pouco conhecidos e muitos menos objecto de quaisquer comentários, os quatro textos atraíram a atenção de António Salvado que sobre eles discorreu longamente e de cuja substância daremos um sucinto e incompleto apanhado.
O primeiro texto corporiza um poema em francês; o segundo constitui uma alocução aos jovens, em português; os terceiro e quarto enformam o corpo de duas conferências, em castelhano: El ideal de la Sinceridad – La Tolerancia – La Discreción – quatro textos patenteando um acentuado valor pedagógico e vivificando também uma indiscutível e originalíssima literalidade. Na verdade, todos eles agregam qualidades de um genuíno escritor, caracterizado por entusiasmo criador cativante e por uma multiplicidade de recursos estilísticos singulares.
A primeira abordagem incidiu sobre o poema em francês, intitulado Sois un homme – Sê um homem, plasmado mediante quatro quadras de versos alexandrinos e rima cruzada e que, segundo António Sal- vado, sintonizando um certo sopro empolgante da poesia de Victor Hugo, revela também o excelente domínio do verso francês por Faria de Vasconcelos. E uma tessitura formal anafórica – exclamativa de elaboração subtilmente repetitiva se urde o propósito que o título encerra: Sois un homme – Sê um homem.
Alocução aos jovens (de 1926) foi o segundo texto em análise e que, segundo o comentador, prima pelas intenções que norteavam o ideário pedagógico de Faria de Vasconcelos – o fervor deste posto na ininterrupta comunhão com a juventude e na certeza, também, de que pelas palavras, vértices de argumentação, as benéficas consequências tornar-se-ão palpáveis naqueles que as ouvirem. Pronunciada solicitação de alunos muito jovens, a alocução amplia-se através de induções e de deduções, como se espécie de sermão se tratasse. Ocasião para o pedagogo explicitar aos jovens ouvintes tudo aquilo que pode alumiar o homem: a busca de conhecimentos, a consciência de que a soma do seu saber é sempre inacabada, e que esse conhecimento adquirido se deverá unir e valorizar quando dimensionado para o sentimento de solidariedade para com os outros. Mais à frente, adensa Faria de Vasconcelos uma admirável orquestração acerca do que se deve entender por Ideal, de tudo o que poderá superlatizar o Ideal num alheamento a esforços e sacrifícios. E será em semelhantes perspectivas que a Alocução aos jovens se substanciará num apelo final aos jovens para que tenham fé na vida, uma fé que aniquilará pessimismos, inércias, egoísmos.
Os dois últimos textos, nos seus níveis de expressão linguística de ideias, nas suas modulações plurívocas e aforísticas e, ainda, nas várias relações conceptuais com as cenografias das mensagens, apreendem, nas suas tónicas, muitas das fascinações que atravessam o poema e a Alocução aos jovens. E, em El Ideal, aquilo que o pedagogo procura incutir nos seus destinatários (jovens e não só) e num eixo primordial a estruturar a tessitura da conferência, aponta para a preocupação de lhes transmitir o ideal como modelo de perfeição, como suprema aspiração. O carácter e a substância da conferência solidificam-se mediante uma coordenada linguística muito bem traçada e ladeada por sequências tónicas excelentes e perfiladas com indiscutíveis propriedade e segurança. O ideal surge, pois, en-fatizado como percurso de vida e para a vida. E como o ideal varia de homem para homem, exis-tirão tantas espécies de ideal quanto os géneros que de homens persistirem. Para além de vários ideais confusos, alçar-se-ão os ideais de fé, de fraternidade, de solidariedade. Porém, juntamente com estes ideais outros, abomináveis, ganham forma: o do hipócrita, o grosseiro e vulgar da voluptuosidade material que visa riquezas e honras – todos esses opondo-se ao espaço radiante da perseverança, do entusiasmo, da coragem, da paciência, da fé, da pureza de coração. E, em propósito pedagógico e doutrinário, a discriminação dos inimigos que levamos dentro de nós: debilidades, defeitos, más inclinações, paixões. Mas será consciencializando essa gama negativa, que nos ocorrerá o anseio de desejarmos a justiça, a verdade, a sinceridade. Isto é: um nobre ideal transformará os caminhos de lágrimas em sendas esperançosamente floridas.
A sinceridade, a tolerância, a discrição são, diz o conferencista, flores que ornamentam o caminho espiritual da vida, cimento da nossa vida pessoal e pilar da nossa vida social. E para cada lado do triângulo guarda Faria de Vasconcelos uma longuíssima caracterização. Resumindo, o homem sincero ama a verdade, por esta luta e, se necessário, por ela se sacrifica. E, em práticos mas artisticamente notáveis parágrafos, Faria de Vasconcelos, em subtil oposição, coloca frente a frente o homem sincero (que é, em simultâneo, tolerante e discreto) e o homem hipócrita. Ora, para o efeito, o emissor terá de recorrer ao uso de |das palavras| palavras; e neste recurso, desenvolve o autor uma constelação polifónica e polissémica absolutamente genial iluminada pelos lineamentos e pluralidades que enchem a substância desse curioso conjunto de significado e de significante a que chamamos palavra. E consubstanciada essa constelação em quarenta e quatro frases, cada começado por Hay palavras que… E múltiplos se evidenciam os valores que esta última conferência estrutura: a honradez, a lealdade, a modéstia e muitos mais. Finalizando, caminhemos dominados por um furor religioso, deixando na sombra o que deve morrer na sombra. Sinceridade como ideário de vida, tolerância para com os outros, discrição que será sempre uma atitude de bom senso.

13/03/2019
 

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