| Ano |

Error parsing XSLT file: \xslt\NTS_XSLT_Menu_Principal.xslt

30 de janeiro de 2019

Carlos Semedo
POSTO DE TRABALHO

Na Casa Amarela – Galeria Municipal, em Castelo Branco, encontra-se patente, até meados de Março, a exposição Posto de Trabalho, de Valter Vinagre. O meu primeiro contacto com este trabalho aconteceu através da mediação jornalística, num jornal nacional, quando da atribuição do Prémio Melhor Trabalho de Fotografia, pela Sociedade Portuguesa de Autores. Só mais tarde, numa apresentação do autor sobre o seu trabalho, pude observar praticamente todas as fotografias e sentir a sua força avassaladora. Agora que perto de metade estão expostas na Casa Amarela, finalmente pude perceber em toda a dimensão, o impacto que as mesmas podem ter no espectador.
São imagens de áreas de espera, zonas de transição e dos espaços onde as prostitutas e os prostitutos trabalham junto às estradas. A decisão primordial do autor é a de não mostrar as pessoas. Essa ausência marca a nossa relação com a obra em pelo menos duas dimensões. Torna quase impossível o olhar voyeurista e confronta-nos solitariamente com aqueles espaços, despindo-nos no diálogo silencioso com cada fotografia. O sofá à beira da estrada, rodeado de despojos, lixo, convoca-nos para o caminho tortuoso, um labirinto de relações que levam invariavelmente ao choque com a ideia de conforto associada ao objecto em causa. Um balde industrial com um guarda-chuva encostado, fortemente aparentado com a técnica usada pelos trabalhadores de construção, para reservar o lugar de estacionamento da carrinha. Pedaços de esponja, também eles despojos de algum assento de camião ou automóvel.
As pessoas que povoam aquelas fotografias, são desenhadas e ganham vida na nossa cabeça sem nos dar hipótese de uma nomeação. Não há nomes ou alcunhas, não ouvimos as suas vozes, os seus corpos são como os nossos, com as mesmas imperfeições, rugas e quilos a mais ou menos. Os despojos em redor, aumentam o desconforto e mostram-nos o mundo como ele também é. Em Posto de Trabalho não há espaço para enfiar a cabeça na areia ou de varrer a realidade para baixo do tapete. Numa das imagens somos recebidos por um tapete vermelho, convite para a passagem para o outro lado e, mais uma vez, o autor não nos deixa margem para o onírico. Aqueles pinhais, aquelas florestas não escondem duendes e histórias mágicas, como João Pinharanda bem assinala no seu texto sobre esta exposição. São sítios que ninguém tinha mostrado com esta crueza, sensibilidade e lucidez.
A luz, essa maravilha da natureza, que faz com que o olho e a máquina fotográfica se transformem num campo aberto de percepção, leitura e interpretação, é plena de sentido metafórico e é seguramente uma das mais usadas, na história literária. Valter Vinagre usa a iluminação com a mestria de poucos e adensa o mistério da nossa situação enquanto espectador. Quando estamos quase a sucumbir à possibilidade da beleza, há sempre um detalhe que nos afasta desse caminho e nos faz regressar à rugosidade. Nas duas imagens de menor dimensão, as únicas que estão emolduradas com vidro, a presença do universo infantil e, uma vez mais, o autor convoca a nossa empatia. Afinal, nós precisamos tanto do outro para sermos, que os corpos que ali não estão, acabam por nos invadir e não nos largam enquanto aquelas fotografias nos assaltarem a memória.

30/01/2019
 

Outros Artigos

Em Agenda

 
01/05 a 31/10
50 anos de abril: em cada rosto igualdadeMuseu Municipal de Penamacor
12/06 a 31/10
Uma Poética ResistenteMuseu Francisco Tavares Proença Júnior, Castelo Branco
tituloNoticia
29/06 a 05/08
LilithGaleria Castra Leuca, Castelo Branco
10/07
Áleas do JardimMuseu Francisco Tavares Proença Júnior, Castelo Branco

Gala Troféu Gazeta Atletismo 2022

Castelo Branco nos Açores

Video