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26 de dezembro de 2018

Carlos Semedo
A UTOPIA DE BELGAIS

Maria João Pires regressou aos concertos na sua quinta, Belgais, e a profusão de iniciativas num espaço muito curto de tempo, assume, na minha perspectiva, um carácter celebratório. Belgais é um sítio que conheço muito bem e guardo com carinho a memória de um tempo intenso e de aprendizagem multifacetada.
Muito se disse e escreveu sobre o projecto que Maria João Pires assumiu como uma tarefa experimental de aproximação a ideais e convicções pessoais e uma resposta ao que considerava o caminhar da sociedade contemporânea, para um abismo civilizacional.
Na prática, tratava-se de dar substância a uma Utopia, na qual as Artes, o respeito pela Natureza e o equilíbrio entre as Ciências e as Humanidades teriam um papel maior. A localização, um espaço relativamente afastado da pressão urbana, não era um detalhe menor. A proximidade relativamente ao Rio Ponsul, o difícil (pelo menos no início) acesso, a decoração ascética e cuidada, e a ressonância misteriosa dos Belgaios, aliados ao reconhecimento internacional da pianista, eram ponto de partida de uma notabilidade que parecia assegurar uma construção perene.
Ao longo dos anos, por ali passaram centenas de personalidades, das Artes, das Ciências, Literatura e milhares de pessoas interessadas na partilha e vivência desta Utopia. Espectáculos, o Coro de Belgais, Oficinas e a Escola da Mata foram algumas das propostas que colocaram Belgais no centro das atenções de muito mundo. O Coro, constituído por crianças e jovens oriundos das mais diversas proveniências sociais, residentes na região, realizou digressões em Espanha, França, Suiça e inúmeros concertos em Portugal. Chegou a perspectivar-se uma digressão no Japão, um território afectivo de extrema importância para a pianista. Os Concertos não eram uma replicação de modelos postos em prática em outros lugares, mas sim um território de experimentação temática com cruzamento de Artes, Músicas, estimulando a possibilidade de, com ligações subtis e complexas, o público e os artistas envolvidos renovarem a sua leitura sobre o que é viver e pensar o Mundo. As Oficinas, muito mais do que centradas nas questões técnicas, abriam portas para o questionar do papel do artista na sociedade e eram um estímulo para encontrar a sua própria voz num meio povoado de aparentes certezas e ruído. Na Escola da Mata perseguiu-se a Utopia de uma abordagem diferente, um ensino profundamente respeitador da diferença, aberto relativamente aos mundos que o Mundo nos oferece.
Maria João Pires regressa depois de este sonho ter sido fugaz, com um final penoso e difícil para muita gente e eu, que tanto aprendi em Belgais fico surpreendido e comovido. Surpreendido porque nunca imaginei que a pianista tivesse a energia necessária, vital para alimentar de novo um sonho desta natureza. Comovido porque apesar de ter vivido alguns dissabores pessoais relacionados com a minha passagem pelo projecto, dou muito mais valor às coisas boas, às pessoas com as quais trabalhei (muitas guardo-as no coração) e à energia poética que Belgais despoleta.
Que tenhas muita sorte, nesta nova aventura, Maria João.
Dedico este texto às crianças e jovens, hoje quase todos já adultos, que tiveram a sorte de conviver com a intensidade única e singular desta Utopia.
Que 2019 seja um ano de novas e renovadas Utopias.

26/12/2018
 

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