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14 de novembro de 2018

Antonieta Garcia
CONTAR HISTÓRIAS PARA SALVAR A VIDA…

Ao longo dos séculos, as mulheres protagonizaram algumas rebeldias e muitas submissões. Velhos dogmas mantiveram-nas prisioneiras de uma visão do mundo que dividia o pensar (masculino) do fazer (feminino). Remetidas a uma posição subalterna, as que ousaram enveredar por comportamentos heterodoxos e, de alma ao léu, demandaram justiças, colheram frequentemente críticas e iras. A necessidade de equilibrar o prato da balança na divisão de capacidades e tarefas foi sendo adiada. Às filhas de Eva oferecia-se a tolerância, o desdém. Guardiãs da tradição queriam-se/querem-se afastadas da vida pública. Se quebram o silêncio, apelidam-nas, por vezes, de prevaricadoras, de marginais. A sociedade patriarcal não perdeu atualidade, e as mulheres, tendencialmente, trabalham, resignam-se, respeitam a ordem. Houve conquistas reais ao longo de séculos de história? Sem dúvida. Em determinadas épocas, parecia até que retroceder era impensável. Erros nossos! No século XXI, assusta o desrespeito pelos Direitos Humanos, propagado aos sete ventos, por vozes que, se não chegam ao Céu, fazem mossa; tornaram-se demasiado audíveis para poderem ser ignoradas. Não vale a pena repetir o que disseram sobre as mulheres, Trump, Erdogan, Salvini, Bolsonaro… Um rol de absurdos veio à tona, dito em violências inauditas. Há quem pretenda empurrar tais palavras para debaixo do tapete. Vale a pena arriscar?
Que fazer com prepotências tamanhas? Soltar Xerazade e as narrativas das “mil e uma noites”? Filha de um Vizir era corajosa, culta, inteligente. Decidiu preservar da tragédia as mulheres que Shariar, escolhia. Colocando em risco a própria vida, abraçou uma tarefa perigosa: curar a loucura do sultão que focara a vida na vingança da traição da primeira esposa. Noite após noite, elegia uma virgem que, de manhã, decapitava. Como sói acontecer com os tiranos semeou o terror, em todas as casas. Voaram muitas cabeças.
O plano de Xerazade, mulher enigmática, resulta e o sultão entregou-se a vaguear e a desejar perder-se com ela, em viagens quiméricas…
- Que bem contava as coisas!...
Em estado de graça, seduziu o déspota, durante 1001 noites… uma maneira de dizer, que mais de 1001 foram /são as narrativas; Xerazade teceu e desteceu tramas; parava-as, suspendia-as “ao nascer do sol” e, em espiral, recriava personagens e renovava sequências, interrompidas no momento certo, para aguçar o interesse e ter direito a mais uma noite de vida. E assim desbravou sendas que nem conjeturava que houvesse…
No tapete voador, ambos sujeitos-viajantes desvelaram mundos. Recriaram o real, através do que “viram” e da linguagem para o dizerem e entenderem. Vagabundearam, seivando refúgios interiores, criando e renovando a tessitura de afetos. Por que se cativou das palavras o cruel sultão? Aprendeu que a essência da viagem é o prazer, o ter tempo para olhar, a imprevisibilidade, o contacto com o inesperado, a proximidade ao Outro?
Shariar pedirá a Xerazade que se mantenha junto dele. Para ouvir histórias de todas as culturas. Na lenda da antiga Pérsia, a contadora fascinou e em happy end, curou a tirania, ganhou o infinito amor…
E agora? Que Xerazade inventar para Trump, Erdogan, Bolsonaro…? Os tempos são outros, as narrativas demasiado longas… Tuítar é tão mais simples… Uma meia dúzia de carateres resolve tudo? O lema, time is money, chegou ao topo das crenças. Xerazade não teria sucesso.
Ai, valha-nos a Maria Paciência que ainda apregoa que “o tempo dá-o Deus de graça”. Talvez lhes abrisse o entendimento da Fraternidade, o sabor que germina nos dias de convívio, de amizade. Maria Paciência abre a casa e põe a mesa aos esfaimados do Bem. Nesse ágape, há lugar para todos. Protege sempre, confia sempre, sempre tem esperança, sempre persevera. O amor nunca falha.» (São Paulo, Coríntios I, 13: 8).
Quem vem ouvir a Maria Paciência? Certo é que os tiranos modernos não desmerecem dos antigos e excluem pessoas pela cor da pele, agridem mulheres, refugiados e a cultura e religião que seguem… São xenófobos, misóginos, racistas… e estão a soltar, sem pejo, os diabos mais canalhas de que há memória. Deuses menores vão semeando a barbárie, numa época em que sabemos que a Solidariedade poderia, com a aprendizagem de milénios, construir um mundo mais fraterno. Utopia? Não sei. Mas se não aspirarmos ao impossível, que podemos esperar? Já conhecemos o filme: os Bolsonaro hão de proliferar como cogumelos e todos perdemos… Ai, valha-nos a Maria Paciência!!!

15/11/2018
 

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