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7 de novembro de 2018

Valter Lemos
A REVOLTA DOS ABASTADOS

Após um processo caracterizado por uma mistura de política, justiça, justicialismo, comunicação, fake news, etc., o Brasil elegeu Bolsonaro como o seu futuro Presidente. Quanto à legitimidade nada a dizer. O homem ganhou as eleições por uma diferença ainda considerável. Mas, na verdade, em Portugal muita boa gente ficou surpreendida e até chocada com o resultado. Depois de Trump, da Hungria, do Brexit, da Itália e mais recentemente dos novos sinais da França, já todos deveriam ter percebido que a onda está a crescer na extrema direita. Mas, realmente, alguns ainda não acreditam.
Afinal o que leva ao crescimento desta onda que mistura nacionalismo, xenofobia, autoritarismo e até um certo cheiro a fascismo?
A explicação comum para a vitória de Bolsonaro parece ser a de culpar a corrupção da governação do PT. Ou seja, Bolsonaro não ganhou as eleições por ter propostas melhores para a vida dos brasileiros, mas porque os seus antecessores eram corruptos. Embora a explicação seja arriscada para o que se pode esperar do futuro do Brasil, até pode ser aceitável. Mesmo que Bolsonaro defenda abertamente a ditadura militar que governou o Brasil e até chegue a dizer explicitamente que o problema da mesma foi torturar em vez de matar.
Passa-se assim imediatamente da discordância sobre a ação dos políticos para a discordância sobre o regime político, tentando associar democracia a corrupção e ditadura a honestidade. Nunca houve, nem nunca poderá haver uma ditadura honesta! Pelo simples facto de que qualquer ditadura assenta na apropriação unilateral do poder por poucos que se consideram a si próprios com mais direitos do que os outros. Em todas as ditaduras da história um pequeno grupo se apropriou dos direitos, dos bens e muitas vezes até da vida dos outros. Pode argumentar-se que numa democracia também é possível acontecer algo semelhante, mas, em democracia, apesar de tudo, é possível desmascarar, criticar, contestar e demitir tais poderes, o que não acontece nas ditaduras.
Pode haver mais corrupção do que decidir sobre os recursos do estado sem ter de prestar contas a ninguém? Pode haver maior corrupção do que decidir que quem pode ter determinadas atividades ou empregos ou cargos são só os que concordam com os ditadores? Pode haver maior corrupção do que ter uma justiça subordinada aos interesses do ditador?
A corrupção pode existir em democracia, mas é a essência das ditaduras.
Mesmo que não estejamos a caminhar para a instauração de novas ditaduras (o que parece improvável nos EUA, mas, apesar de tudo, menos improvável no Brasil, ou mesmo em alguns países europeus, no caso de enfraquecimento da União Europeia) parece estar instalado em diversos dos países mais desenvolvidos um mal-estar com a governação, a política e até com a dinâmica social, com o extremar de fundamentalismos e a progressiva substituição da lei pela moral. Ora a moral diverge por grupo social, étnico, religioso, cultural, etc., enquanto a lei é, mesmo quando mal feita, senão para todos, pelo menos tendencialmente para todos. Como diz um grande princípio dos modernos estados liberais, a cada um a sua moral e a lei para todos.
Estados e sociedades governados pela moral e não pela lei ou, se quisermos, em que uma moral oficial é a lei, são realidades em alguns países árabes e em algumas partes do mundo, mas pareciam desaparecidos da Europa e da América.
Parece assistir-se agora a uma pressão para o seu reaparecimento. E perguntamo-nos: será possível? Afinal o que leva os europeus (ou os americanos) a isso? Os europeus e os norte-americanos, atualmente vivos, são os seres humanos, em toda a história da humanidade, com mais recursos disponíveis, mais direitos e mais proteção. Nunca os humanos que nos antecederam tiveram tanta comida, tanta bebida, tantas condições de habitação, tanta proteção na doença, tanta segurança, tantos recursos materiais, tanto acesso ao conhecimento, tanta liberdade como os europeus e norte-americanos vivos. De onde vem afinal tanto descontentamento? O que explica a insatisfação e a crise das pessoas mais protegidas e com mais condições de vida de sempre em todo o mundo?
Não sei onde conduzirá este movimento um pouco primitivo e irracional que parece estar a alastrar nos países desenvolvidos. Alguns povos parecem querer deitar fora o bébé com a água do banho, ou seja, parecem estar dispostos a abdicar da autodeterminação e da democracia e nem se sabe bem em troca de quê.
Não sei bem o que provoca esta crise nem o que dela resultará. Mas, não tenho dúvidas que é uma crise de abundância e não uma crise de necessidade.

07/11/2018
 

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