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17 de outubro de 2018

Maria de Lurdes Gouveia Barata
O CÉU NUBLOU-SE DE SUSPEIÇÃO…

Julgávamos nós, eu pelo menos julgava, que não haveria mais telejornais a destacar a PRAXE ACADÉMICA, sobretudo a partir do infeliz ano de 2014 (se não estou em erro) com tantos debates e condenação pública de práticas selvagens e depois de saber que os responsáveis das instituições de ensino superior fazem diligências no sentido de acabar de vez com esses eventos na praxe. Porém, entre as três ou quatro notícias que apareceram, apesar do repúdio generalizado de rituais praxistas violentos e sádicos, foi a da UBI que mais retive pela característica inédita dum grupo de praxe secreto: um “grupo secreto” de apenas homens, com “código [‘regras’] de praxe “ próprio e alheio à universidade, criado no ano de abertura da licenciatura na instituição.
O grupo auto-intitula-se de Dominus Praxis e teria como tradição, desde que foi criado no ano lectivo de 2005/2006, levar caloiros para a Serra da Estrela para serem praxados. De acordo com o relato de uma das vítimas, que apresentou queixa, os caloiros submetiam-se depois a um pacto de silêncio para preservar o anonimato do grupo dentro da universidade. A ocultação da existência manifesta só por si desiderato que revela o pior do ser humano: a humilhação, o sofrimento, o medo, para assunção do mando e dum poder.
Mas, se chamei à escrita a praxe, não foi para mais uma reflexão repetitiva dos estereótipos de domínio e submissão e de rituais desprezíveis de alcoolização, de infantilização, de ridicularização, de sexualização. O que me reteve o interesse foi a existência desse grupo secreto que se resguarda porque pode deduzir-se que tem consciência de ser do mal e tem de ocultar-se. Surge então a desconfiança, a suspeição perante este tipo de carácter que se revela… Lembra-me uma reflexão de Vergílio Ferreira em Conta Corrente (5): «Como é que um tipo que é medíocre há-de saber que é medíocre, se ele é medíocre?» É a cultura da mediocridade que nos desperta sentimentos de insegurança e suspeição que vão nublando os céus do nosso viver.
Até à exaustão bombardeiam-nos os telejornais com o CASO CRISTIANO RONALDO. O alegado crime de violação cria um vendaval sem hipótese de presunção de inocência por uma grande maioria – são duas semanas a levantar suspeitas sobre alegado abuso sexual de Kathryn Mayorga. Mas porque chamo este caso à minha escrita de hoje? Pelas interrogações, sem sexismo, que me levantou a mim, cidadã, que pelas costas dos outros vê as suas. Por que razão se torna público um incidente nove anos depois? (Estou curiosa sobre as novas provas… surgidas passados nove anos?). Por que razão se fez um acordo de muito dinheiro para o silêncio e agora se quer muito mais dinheiro? Salvar a dignidade de mulher será negócio? Mas a suspeição será uma lapa agarrada a Cristino Ronaldo, seja ele inocente ou culpado…
A propósito vem o CASO DE BRETT KAVANAUGH acusado por quatro mulheres de abusos sexuais, incidentes com mais de 36 anos, na época em que era estudante dos ensinos secundário e universitário. A primeira denúncia veio de Christine Blasey Ford, seguindo-se três outras em momentos diferentes. A investigação do FBI não deu em nada e o Senado norte-americano votou favoravelmente a nomeação de Brett Kavanaugh como juiz do Supremo Tribunal dos EUA. “A minha família e a minha reputação foram destruídas para sempre”, disse, no entanto,  Kavanaugh, afirmando não desistir. A suspeição levantada continuará a nublar a vida de um homem que nunca foi agressor sexual enquanto foi um zé-ninguém… Agora havia a hipótese de possível negócio de indemnização? Porque só apareceu agora o dever cívico da denúncia e da dignidade feminina ferida?
Acrescente-se que as notícias do mundo se tornam mais nossas pela facilidade e rapidez das comunicações. Mas vamos para mais perto, para o nosso país, para as nossas terras, para a nossa cidade. Levantar suspeitas é uma arma, sobretudo em tempos de eleições. Levanta-se a suspeita. O que por vezes é só suspeita, e ainda não está nada provado, aumenta com mais outras e acrescentam-se outras e enredam-se histórias possíveis germinadas em corações invejosos e de má fé, e germinam mais outras (e às vezes certa comunicação social também ajuda…) e a suspeita que propositadamente se instala torna-se verdade e cola-se, que é o pretendido. Num artigo de 2017 Pedro Marques Lopes - A política do boato – iniciava assim a sua reflexão: «Já lá vai o tempo em que se podia dizer que algo sem a menor base de verosimilhança, sem o menor fundamento, mais cedo ou mais tarde, destruiria a credibilidade dos seus mentores. Pelo menos, faria que caíssem no ridículo (…)». Não é o que se passa agora: « O facto é que vivemos na era do Infowars do Alex Jones, onde se ouvem as mais delirantes mentiras e teorias que são religiosamente seguidas por milhões de americanos» (…). E não só, acrescento.
Os céus estão mesmo nublados de suspeição…

17/10/2018
 

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