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18 de julho de 2018

Lopes Marcelo
LITERATURA ORAL TRADICIONAL

Há várias vertentes e tipos de linguagem. De facto, as formas de comunicação traduzem a realidade viva e dinâmica do modo de vida, do sentir e do agir das gentes que se contituiram em comunidade, seja uma região, um país ou uma associação de países. Mesmo antes da narrativa se ter fixado na palavra escrita, as pessoas expressavam-se através dos seus intuitivos alfabetos funcionais, em função dos seus saberes, modos de sentir, de ser, de fazer e de falar. Era a linguagem como meio espontâneo de representação da vida e modo essencial na formação da memória, quer de cada ser humano, quer da memória colectiva.
A importância da função questionadora e mediadora da linguagem em cada pessoa, quer em relação consigo própria, quer na relação com os outros e o mundo real e simbólico, foi decisiva na evolução humana. A linguagem foi sendo progressivamente consagrada ao nível símbólico – memória transmitida oralmente dita oratura – influenciando a evolução social e cultural pela reafirmação e preservação dos valores e das práticas mais valorizadas em cada geração e, que sedimentando-se, venceram a erosão do tempo e deram origem às tradições.
Traduzindo a partilha e a consagração dos valores e dos saberes mais significativos e resistentes na tradição, ao ser registada como literatura oral, permitiu consolidar a construção da noção de contrastes nas dimensões de tempo e de espaço. Assim se foi desenhando e foi evoluindo o mapeamento das memórias que constitui indelével herança entre gerações. A evolução da humanidade foi construída através da selectiva adopção colectiva de valores e práticas e, também, pela sensível inscrição em cada pessoa dos gestos e signos verbalizados, oralmente transmitidos e progressivamente absorvidos, enlaçados nos exemplos recebidos que geram atitudes, afectos e comportamentos. De facto, as genuínas narrativas constantes da literatura oral tradicional, constituem o fluxo de informação e de formação em que se sedimentou a herança cultural do povo.
Quanto aos temas, a literatura oral tradicional nascendo pela expressão das memórias e vivências individuais, consagrou-se no imaginário colectivo e foi-se consolidando como síntese essencial da expressão da vida do quotodiano, até se tornar em tradição, ou seja resistindo ao tempo e constituindo-se em bandeiras culturais. Contudo, bandeiras não definitivas, mas antes, revisitadas e evoluindo com a própria sociedade de que são representação simbólica e expressão identitária da evolução da alma cultural em cada comunidade. A literatura oral tradicional mesmo quando já registada, mantém as cracterísticas de existirem várias versões e de ser de natureza comunicativa expontânea, com relevância nas linguagens musical e gestual. Designada pela Academia por Oratura, não lhe tem sido reconhecido um estatuto de dignidade idêntico ao da literatura, o que releva de algum preconceito cultural. De facto, significando o termo cultura (do latim colere) cultivar, representa o processo evolutivo e multifacetado de as pessoas se cultivarem gregariamente. Não se entende, por isso, que se estabeleçam hierarquias nas dimensões culturais: a erudita acima da tradicional, a intelectual acima da popular, a urbana acima da rural, as indústrias culturais acima do artesanato ou as bandas de nomeada acima dos grupos etnográficos.
A terminar, deixo aos leitores um exemplo da sabedoria popular, recolhido da expressão oral, passado entre duas pessoas, em que uma tinha ofendido a outra. A pessoa que tinha feito a ofensa, mostrando-se arrependida, perguntou à ofendida:
-Peço-te que esqueças. Então não me perdoas?
Ao que a pessoa ofendida, depois de reflectir, respondeu:
-Perdoar, perdoo, já que é um sentimento cristão. Mas esquecer não. Esquecer é de burro!

18/07/2018
 

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