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13 de junho de 2018

José Dias Pires
TER MEMÓRIA NA SOCIEDADE DO ESQUECIMENTO

Vivemos cada vez mais numa sociedade do esquecimento. Os estratagemas que procuram evitar que nos esqueçamos de satisfazer o incontrolável apetite da sociedade de consumo promovem a memória do imediato e do supérfluo e desejam que não nos recordemos coletivamente do que importa e dos que importam.
Assim, apesar de triste, é natural que António de Sena Faria de Vasconcelos Azevedo, natural de Castelo Branco, seja coletivamente esquecido, para não dizer ignorado.
E porquê, se nasceu na Rua de Santo António, freguesia de S. Miguel da Sé, em Castelo Branco, a 2 de março de 1880?
E porquê, se o seu nome foi escolhido para patrono de uma escola da cidade?
E porquê, se pode ombrear com outros ilustres albicastrenses como João Roíz ou Amato Lusitano?
E porquê, se Faria de Vasconcelos foi o pedagogo português que mais completamente se envolveu no Movimento da Escola Nova, acompanhando as figuras internacionalmente notáveis de Edouard Claparède, Adolphe Ferrière e Pièrre Bovet?
E porquê, se a prática pedagógica preconizada por Faria de Vasconcelos abriu novos horizontes na compreensão dos desafios atuais da educação, presentes no Relatório de J. Delors e Estratégia Europeia até 2020: educação e formação na aprendizagem ao longo da vida?
Porquê? Porque existe uma memória individual que é aquela guardada por um indivíduo e se refere às suas próprias vivências e experiências, mas que cada vez menos contém aspetos da memória da comunidade a que pertence. Porque a memória coletiva que devia ser formada pelos factos e aspetos julgados relevantes e que devia ser guardada como memória oficial das comunidades se está a perder. É cada vez mais difícil descortinar onde estão e quem está nos lugares da memória — monumentos, histórias de vida, obras científicas, literárias e artísticas — que expressam a versão consolidada do passado coletivo das comunidades.
Na sociedade ocidental atual, o ritmo acelerado do trabalho urbano somado à facilidade e rapidez dos meios de comunicação (geradas pelos constantes avanços tecnológicos) colocam-nos perante uma quantidade avassaladora de informações e, se nos distraímos, obrigam-nos a consumir a informação de forma acrítica, sem um cuidado seletivo, perdendo-se assim o poder (e a oportunidade) de escolher aquilo e aqueles que importa preservar.
O não exercício desse poder de seleção é o fator fundamental para a formação das sociedades do esquecimento.
Faria de Vasconcelos, o ilustre albicastrense que ombreia (devia ombrear) na nossa memória coletiva com João Roíz e Amato Lusitano, corre o risco físico de desaparecer definitivamente: a sua sepultura, no Cemitério dos Prazeres foi efetivamente considerada abandonada por não ter averbamentos, limpezas ou movimento mortuário há mais de 15 anos conforme estipulado no Regulamento dos Cemitérios Municipais de Lisboa. Nestas situações, os herdeiros podem solicitar a retirada de prescrição e solicitar o averbamento da concessão da sepultura.
Contudo, a sua filha Águeda Sena Faria de Vasconcelos encontra-se incapaz de resolver este problema e o neto de António de Sena Faria de Vasconcelos encontra-se no Canadá.
Sei que existe a preocupação de um grupo dos «Amigos de Faria de Vasconcelos» para ajudar a resolver a situação com dignidade social e histórica.
Castelo Branco, através da sua autarquia, pode e deve contribuir para preservar a memória de Faria de Vasconcelos, recuperando a sua sepultura e trasladando os seus restos mortais para a cidade onde nasceu.
Ter o nome numa escola é bom, mas honrar a memória numa sociedade do esquecimento é muito mais relevante.

13/06/2018
 

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