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13 de junho de 2018

Antonieta Garcia
EM DEMANDA DA JUVENTUDE...

Mulher feia? Mulher bonita? Gostos não se discutem. Porém, se na juventude a beleza se associa maioritariamente à mulher (os Adónis aqui, ainda ficam a perder), na idosa, a fealdade é proverbial. Perpetuada por cânones literários (e imagens) que passam de geração em geração, envelhecer no feminino é um processo repleto de narrativas tristes, atribuladas. Etiquetar uma mulher, velha-feia, versus mulher, jovem-bela, é um estereótipo que traduz um olhar social de séculos. A representação do aspeto fisionómico da anciã assusta; a mulher velha representa a metáfora de uma vida gasta, imperfeita, concluída. Ideias de solidão, de decrepitude, de fraquezas moravam (moram?) por ali. A fonte do elixir da longa vida sabe-se lá por onde paira… Nem o mítico Dr. Fausto foi muito longe, no processo de encontrar a forma de permanecer mais tempo jovem; descontente com os conhecimentos da época, invocou um inimigo da luz, um demónio, com o qual fez um pacto assinado a sangue: viveria vinte e quatro anos, sem envelhecer, em troca da alma. Viveu prazeres, a tempo inteiro, até ao final da vida. Entrará no inferno… sem que o amor de Margarida o possa salvar.
Ora, nos séculos XX e XXI, sua excelência, a cirurgia estética, tenta o mesmo objetivo: retardar a velhice, mascará-la, afugentá-la. Em demanda da eterna juventude, acena com um futuro risonho às velhas senhoras e senhores (sem discriminação). As barrigas passam-se a ferro, as outras gordurinhas amargam até desaparecerem… Mas os rostos…
Já são muitas as caras plastificadas com botox, ou com cirurgias plásticas em série. Hoje, a idade não se lê inteirinha nas rugas desenhadas pela vida, expressando felicidade ou desventura… Ainda assim, quando olho para alguns semblantes, diz-me uma pulga atrás da orelha que muitos arrependimentos e lamúrias soam em peles retesadas, remendadas, consertadas… sem expressão…
Na verdade, como descrever a velhice em máscaras de plástico? Desaparecerão as bruxas más, encarquilhadas, das histórias de menina? Ser feia como uma bruxa obrigava a ostentar um mapa-múndi riscado no rosto, ter um nariz adunco, dentes escuros, ou ser desdentada, e ser senhora de uma magreza de bradar aos céus. Este estereótipo tem os dias contados?
Se a buena dicha está inscrita nas linhas das palmas das mãos, as rugas, nos rostos das pessoas, também falam da sua sorte e da ausência dela. Quando se deixava andar a idade à solta, livre, o mundo era outro. Faces com rugas tornar-se-ão uma excentricidade.
Atualmente, muitos pontos de admiração descrevem o pasmo de quem se encontra com caras muito iguais, enfunadas, olhos de pomba a ressumar marijuana, bochechas de vidro luzidias… aos 50, 60 anos e mais. O tempo volta para trás? Fotografias mostram o “Antes” e o “Depois” da intervenção estética. A uma velhinha engelhada, sucede uma sempre jovem, em oposição ao que acontece, com o tempo, ao comum dos mortais. A Fonte da Juventude corre agora ao lado da esteticista ou do cirurgião plástico. E de clínicas de dentistas que aplicam dentinhos branquíssimos e certinhos, certinhos, certinhos…
A renovação nem sempre resulta primorosa? Ninguém irá para o inferno; agora, só se enviam milhares de euros para outras carteiras, para outras contas bancárias. Em certos casos, a borracha das pregas na cara, não rafa bem? No pescoço, descobre-se rápido a marosca da juventude forjada? Nada afinal, que um lencinho de seda ou uma gola alta não cubram formosamente. Não é bem assim? Pois. Como acontece com qualquer tecido velho, usado, cada vez há menos por onde puxar e se é esticado, puxado e repuxado, retesado… às vezes, esgarça, rasga, rompe… Mas mandar umas rugas para o caixote do lixo traz felicidade! Se não é barato, voltar a ser jovem vale mais do que ganhar o Euro milhões…
Persegue-nos o Dr. Fausto: a renovação aqui é só exterior. Ajuda? Creio que sim. Andam por aí uns Egos disfarçados de jovens, empinados, levezinhos que voam a confiar em renascimentos melhores!!! Quanto duram? Quem pergunta, não age. E à velhice, mesmo assim, ainda a dizem sinónimo de sabedoria, rotulam-na de “idade de ouro”. Às vezes, é. A vida longa ensina muito a quem sabe viver. É uma mestra de serenidade. Não é maldição nem castigo.
Assim, com ou sem botox, disfarce-se a velhice, apaguem-se rugas, estique-se a pele, sejamos donzelinhas, como aconselhava o trovador medieval…
Mal real é quando Alzheimer, o sonso alemão, (ou outro similar) se intromete e estraga tudo.

13/06/2018
 

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