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14 de fevereiro de 2018

Antonieta Garcia
O DIABO E SEUS HETERÓNIMOS

Não sei que associação aconteceu, mas relembrei o “Auto da Barca do Inferno” (1517), de Gil Vicente, quando um destes dias ouvi Manuela Ferreira Leite. Sei que diabo e inferno são temas que convém tratar com pinças. Quando se fala do Mau todo o cuidado é pouco.
Ora, a Barca do Inferno, comandada pelo Diabo, é velhinha; o demónio que por ali anda, até é moralista à sua maneira; aponta malfeitorias de gente que não é suposto portar-se mal; há de levar os viajantes pecadores para o inferno. Uma outra Barca, em situação oposta, com um anjo por capitão, conduzirá as almas ao Paraíso. Sátira ao Juízo Final, a obra tece também uma crítica severa à sociedade, aos valores morais. Na época, a acreditar no pai do teatro português eram muitos os que vendiam a alma ao Diabo. E sem promoções ou saldos, quem queria e podia, procurava o mais lucrativo. Almas, levianas, corruptas, com experiência de embustes, de fraudes… eram mais caras, em moedas.
Se dermos a palavra ao Maligno, desvelaremos as suas intenções, a sua tática. Não serão idênticas as manhas de um demónio novo, as de um velho, ou as de um pobre diabo… Belzebu, Lúcifer, Satanás, Demónio, Tinhoso… são diferentes formas de nomear as mais de mil caras e mais de mil máscaras do Patilhas, nome costumeiro escolhido por minha avó, lembrando provavelmente representações icónicas que apareciam no seu tempo…
Todos frequentadores assíduos do Colégio da Sedução tornaram-se peritos no conhecimento da alma humana; neste âmbito, pedem meças ao mais científico, hábil e douto psiquiatra; já com exorcistas não há manigância que valha ao Diabo mesmo em figura de gente diabólica.
Os demónios mais ilustrados lidam com perversões de forma discreta, dissimulam, disfarçam-se de bons sujeitos… ladrilham o inferno de boas intenções. Especializaram-se. São tantos os anjos caídos, que cada qual tem sua função.
O primeiro é Lúcifer, com fonemas de luz no nome. Disputou o poder do Pai, foi vencido e exilado no mundo dos mortos. Certo é que, portador de luz, conhece os segredos místicos e do oculto.
Hierarquicamente, Asmodeus, está abaixo de Lúcifer. É o pai dos jogos, do mistério e da perversidade.
A Belzebu, tenente dos exércitos infernais, titulam-no “Senhor das Moscas”; tem por sua conta o pecado da gula, a presidência dos encontros das bruxas, as missas negras…
A avareza é domínio de Mammon.
Belfegor, criador de ideias de destruição, senhor da tortura, controla o comportamento humano. É igualmente responsável pela preguiça.
Azazel é o demónio da Ira. Ensinou às mulheres os segredos dos cosméticos e revelou-lhes os segredos da Magia Negra.
Leviatã, monstro marinho, é o demo da inveja. Triunfa facilmente em lances políticos, tratados comerciais, em embustes, em intrigas palacianas.
Ora, a avaliar pelas referências que o Anjo Caído tem merecido a ministros, deputados, jornalistas… qual dos sete príncipes do inferno é o eleito?
Sabemos por um governante que o seu “Diabo veste PIB”. A pensar no filme “O diabo veste Prada”, descansámos. Sobre outros demónios temos menos sinais de identificação. «Gozem bem as férias que em Setembro vem aí o diabo”, alerta a oposição. Em novembro, outro ministro convidava um grupo parlamentar a “mudar o discurso do tal diabo que não chega”. O BE assegurou que “diabo não vai mesmo aparecer”. O PCP pronunciou-se: “não há meio do diabo aparecer”. Atrasou-se? Anda por aí? Qual? A que vem?
Ora, Manuela Ferreira Leite a quem ouço comentar a res publica, surpreendeu outro dia, quando afirmou: “Da mesma forma que o Bloco de Esquerda e o PCP têm vendido a alma ao diabo, exclusivamente com o objetivo de pôr a direita na rua, aí o PSD fica muito bem se vender a alma ao diabo para pôr a esquerda na rua”.
Acontece que o diabo não está sempre atrás da porta e, às vezes, é surdo, cego e mudo, o malandro. Assim, cada um fará o negócio que entende e com quem entende. Acresce, porém, que “Quando começou a comprar almas, o diabo inventou a sociedade do consumo” (Millor Fernandes). Por aqui, estarão as almas em saldo? Em promoção?

15/02/2018
 

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