| Ano |

Error parsing XSLT file: \xslt\NTS_XSLT_Menu_Principal.xslt

9 de agosto de 2017

José Dias Pires
O EXERCÍCIO DA CIDADANIA NÃO É ESPERAR PELOS OUTROS PARA AGIR

Há quarenta anos, sentado na esplanada do Passeio Verde e tendo por companheiro o saudoso Dr. Armindo Ramos, olhava a cidade ouvindo-lhe, com ironia, o seguinte: «É bom viver em Castelo Branco. Aqui nunca haverão revoluções ou contra revoluções.»
Sabia ele que eu sabia que tal não correspondia à verdade, apenas era um desabafo sobre a nossa bonomia de quem gostava, e muito, de Castelo Branco. Ouvia-o e aprendia que gostar da cidade é como um estado de consciência e convicção de que, como disse o grande arquiteto brasileiro Oscar Niemeyer, os espaços só se defendem a si próprios se tiverem gente dentro, caso contrário, se não houver um compromisso comunitário para a sua fruição, correm o risco de ser delapidados.
Falámos de quase tudo: das Associações, das ofertas culturais, da cidadania.
Grande lição de futuro que ainda hoje é actual.
Do que me disse relembro aqui o essencial:
- As associações só se justificam se reunirem a tripla condição do enquadramento comunitário, do projecto sustentado e do serviço continuado, mas quando se fundam em meros oportunismos ocasionais ou conjunturalmente mais favoráveis perdem a razão de ser como tal reconhecidas.
- As ofertas culturais e de lazer só se aprofundam na participação comunitária e pouco significam se forem apenas subterfúgio e estratagema generalizado de uma programação cultural normalizada para todo o país por empresas especializadas, mas que da matriz cultural endógena pouco ou nada aproveitam ou potenciam.
- As instituições só se reforçam quando deixarem de ser apenas medalhas que se usam em efemérides ou manchas que se limpam em campanhas eleitorais.
- As cidades só ganham relevância comunitária, sustenta-bilidade social e cultural quando anulam, definitivamente, o divórcio entre educação social e cidadania.

Castelo Branco não foge à regra, mas também não pode ser excepção na exigência de uma participação que se obriga a ir muito mais longe da visão de quem a dirige.
Não podemos, nem devemos, descansar na tranquilidade dessa encomenda que afinal não deixa de ser apenas, e só, a desresponsabilização comunitária dos líderes de opinião.
É urgente passar a todos cidadãos, com especial relevância aos nossos jovens a noção de que cidadão é aquele que consegue ser produtivo e se fortalece, gradativamente, à medida que conquista a sua independência social e espiritual, tendo perfeita consciência do seu espaço no mundo actual, adoptando com convicção, princípios éticos, além dos legais, para alcançar o equilíbrio, a harmonia e o prazer da vida em grupo.
É fundamental entender de forma definitiva que a educação para a cidadania não é apenas uma implicação curricular dos programas educativos ou um dever dos executivos autárquicos.
É, em primeiro lugar, uma obrigação de todas as estruturas comunitárias, instituições, organizações e associações, apontando possibilidades, mostrando caminhos, revelando esperanças, sem definir limites à liberdade de proposição, realização e crítica.
O exercício da cidadania não é esperar pelos outros para agir. Cidadania é participação activa, é o envolvimento na vida da comunidade que sustenta e contribui para a produção de conhecimento, para a responsabilização, a partilha de culturas e o desenvolvimento da identidade das pessoas.

Quarenta anos de distância e tanta actualidade!
Hoje e cada vez mais ao exercício da cidadania estão subadjacentes etapas e metas para superar os limites que, na sua construção, cada etapa pressupõe e que são:

1 – Duvidar das evidências e da certeza dos convencimentos que escondem a crítica fácil e a acção cinzenta, procurando construir cidadãos convictos em vez de personagens convencidas.
2 – Desconstruir os aspetos exageradamente apresentados como relevantes da consciência colectiva, procurando detectar incoerências e contradições que reduzam, no exagero do colectivo, a potencialidade da implicação do individual.
3 – Interrogar-se sobre as tensões inter-relacionais de gerações, culturas, interesses e perspectivas, procurando compreender e promover espaços sociais e culturais de encontro, no fascínio de viver com o outro ou os outros, procurando generalizar o viver com todos os outros.
4 – Assumir o saber ser, o saber estar e o saber tornar-se, como um compromisso responsável de universalidade que é o afirmar da individualidade (o ser-se um) no colectivo (sendo todos).

09/08/2017
 

Outros Artigos

Em Agenda

 
09/11 a 21/12
O Rosto do Lugar, O Lugar do RostoGaleria Castra Leuca Arte Contemporânea, Castelo Branco
30/11
Feira Despacha BagagemPraça 25 de Abril, Castelo Branco
tituloNoticia
23/11
Associativismo - Que futuro?Fórum Cultural de Idanha-a-Nova
25/11
Conversas no CaminhoMuseu de Arte Sacra da Santa casa da Misericórdia de Castelo Branco

Gala Troféu Gazeta Atletismo 2022

Castelo Branco nos Açores

Video