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21 de junho de 2017

LOPES MARCELO
O Interior, já não existe?

Há poucas semanas, realizou-se o 1º Congresso Empresarial da Beira Baixa tendo como lema: Unir para desenvolver. Constituiu mais uma meritória iniciativa da Associação Empresarial da Beira Baixa que nos últimos dois anos organizou um Fórum de debate designado pensar a Beira Baixa, que periodicamente, reflectiu sobre a nossa realidade em vertentes tais como: o mundo rural; o território; a educação, a saúde; o turismo e as empresas.
Para quem esperava uma ligação entre as conclusões dos vários temas reflectidos ao longo do tempo e os debates e conclusões do Congresso, pouca ligação notou, pouco realismo e atenção às realidades e problemas concretos da nossa região. No grande palco do Congresso, pessoas consideradas notáveis e importantes pelas funções que desempenham e responsabilidades públicas inerentes aos cargos que ocupam, cumpriram as suas agendas, disseram o que entenderam e da forma que preferiram. A julgar pela sessão de encerramento em que participei, o conteúdo e a forma não foram as mais adequadas e concretas à nossa região, nem contribuiram para lançar ideias novas e estratégias de futuro.
Fiquei surpreendido com o discurso da Coordenadora da designada Unidade de Missão de desenvolvimento do interior, que tomou como principal preocupação afirmar que se devia deixar de falar em interior. E lá foi sublinhando que em relação à União Europeia e em relação a Espanha o interior não é periferia e até está mais próximo do que está o litoral ou Lisboa (o que é uma imagem falaciosa de evidência apenas geográfica mas que tapa o sol com a peneira e esquece muitas décadas de abandono ). Será que esta posição é comum e transversal ao discurso do dito politicamente correcto que importa à classe política? Espero que não! Já que não tem aderência à realidade nem é util à intervenção voluntariosa com medidas concretas, prioritárias e de sentido estratégico. E, confrontada com uma leitura  e opinião diferentes da sua, bastante incomodada a senhora reagiu com o seu auto convencimento, apelidando de Velhos do Restelo, quem não concordasse ou não batesse palmas.
A intervenção da Presidente da comissão Coordenadora da Região Centro, cheia de dados estatísticos, lá reconheceu que o tempo em que o nosso território do interior de baixa densidade entrava nos projectos da região e até fazia aumentar a taxa de financiamento da União Europeia, não deu bons resultados. De facto, ficámos sempre a perder em relação ao litoral. E foram muitos anos com esta preversa metodologia em que a propalada intenção de discriminação positiva era só na capa dos grandes projectos. Agora, abrem-se avisos de candidatura de financiamentos especificos para temas, sectores e territórios mais pequenos e homogéneos mas, as verbas para tais candidaturas é que são limitadas e, em termos comparativos, em proporção muito inferior face aos restantes Projectos. E lá fica mais uma vez comprometida a dicriminação positiva, não tratando diferente o que é realmente diferente.
Por mim, entendo que o mal não está em sermos interior, mas no processo histórico de abandono e da falta de prioridades das políticas públicas. Assumirmos a nossa condição de interior, mas sem complexos, com a nossa identidade histórica e cultural, as nossas limitações mas, também, as nossas potencialidades e  com capacidade de exigirmos respeito e coerencia, é o caminho de cidadania activa de que não devemos abdicar. E se não nos entenderem, então temos de ter capacidade de insistir, de repetir e argumentar, de o dizer de forma clara e construtiva. Não pactuarmos  perante imagens equívocas e o auto convencimento de quem entende poder dar lições em discursos apressados, habituados a que lhes estendam sempre a passadeira, os recebam  com o bom e o melhor do que cá temos e até com festa e aplausos. Se tal merecem, se tal atitude provinciana é eficaz e serve os reais interesses da região, isso é outra música, cuja pauta não cabe nestas poucas linhas. A mentalidade de se ser agradecido, cheios de reverências e palmadinhas nas costas ou beija-mão por migalhas, não faz qualquer sentido, pelo menos em democracia e pensando pela nossa própria cabeça.


21/06/2017
 

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