JOAQUIM MARTINS
A tragédia de Pedrógão
A tragédia de Pedrógão - Este título ainda abre os noticiários. E vai estar presente aos nossos olhos, por largo tempo. Tragédia. E com um dramatismo raramente visto. O cenário da Estrada da Morte não sairá tão cedo dos nossos olhares. “Ninguém merecia morrer assim” li, já não sei onde. As imagens chocam pelo que mostram, mas sobretudo pelo que escondem. Pânico. Angústia. Dor. Drama e horror.
À hora que escrevo (tarde de terça-ªfeira) o demónio do fogo ainda está ativo. As conjugações de fatores que têm dificultado o combate mantêm-se - Calor em excesso, secura, ventos fortes, fumo denso – e surgiram outros focos tão imprevisíveis como os que surgiram em Pedrógão. Oiço numa rádio que ”85 por cento do Concelho de Figueiró dos Vinhos já ardeu” e que 18 aldeias do Concelho de Góis, por precaução, acabam de ser evacuadas. Ou seja “a mão vermelha do Diabo” ataca já, noutro concelho…
A ajuda internacional continua a chegar, mas até ao momento o comando operacional ainda não dá por controlada a situação catastrófica que se vive neste Interior profundo, onde continua a haver estradas cortadas e aldeias sem luz e sem comunicações.
As histórias que nos chegam das dezenas de jornalistas nos locais dão-nos conta de terríveis dramas familiares, de exemplos excecionais de coragem e solidariedade, de gestos de abnegação e desespero… de olhares vazios e bocas secas que não têm palavras para explicar o que viram e sentiram: Uma catástrofe, uma fatalidade; Um choque extremo; um tornado de fogo; um tufão; um tornado do Diabo; um horror sem fim…
A repetição obsessiva das imagens dramáticas está a tornar-se patológica. Nalguns casos, já não há informação, mas exploração da dor, do sofrimento e do desespero. Importa mobilizar para a solidariedade e para a descoberta de soluções. Importa que a tragédia seja vista como a oportunidade, para fazer, com coragem e firmeza, o que a Ciência diz que deve ser feito. Já.