| Ano |

Error parsing XSLT file: \xslt\NTS_XSLT_Menu_Principal.xslt

20 de setembro de 2017

Maria de Lurdes Gouveia Barata
PELOS CAMINHOS DA SOLIDARIEDADE

Disse Kafka que «a solidariedade é o sentimento que melhor expressa o respeito pela dignidade humana» e esta citação vem ao encontro de atitudes e actos que unem os homens que pensam nos homens, porque se sentem parte integrante da humanidade. Paradoxalmente, alguns parecem não sentir isso pelas práticas que concretizam.
O furacão Irma pôs em relevo acções de solidariedade. Os voluntários que oferecem ajuda, como aqueles milhares que se prontificaram para participar na evacuação de Miami (para dar um exemplo), demonstram o espírito de serviço em prol do bem comum, o sacrifício que exprime o amor pelo próximo. Vem-me à lembrança uma passagem do Diário I de Miguel Torga: estando na praia da Nazaré, observa um miúdo que semeava convivência pela praia fora e observa também na hora do banho as pessoas que entram no mar: «Entrei no seio do formigueiro humano que fervilhava dentro de água, humanidade até há pouco hostil e individual, e agora milagrosamente fraterna e solidária. – Há pé? – Não, cuidado! – Venha! – Pode avançar sem medo! – Tome ar fundo! – Mergulhe! § Como se uma bênção os tivesse irmanado, eram todos um corpo só diante da mesma onda. § E eu pus-me a pensar na força gregária que tem o mar. Na força gregária que provoca, afinal, qualquer poder adverso. A pensar que, por desgraça, na vida, os homens raras vezes se dão as mãos como queria o menino. Que só enterrados até metade no enigma de um perigo, que num segundo os pode engolir, se abraçam.» (2 de Julho de 1940)
No entanto, a solidariedade existe, mesmo sem a presença dum perigo iminente como o dos furacões, o dos terramotos, sobretudo o da fúria da Natureza contra a qual os homens não têm o poder de eliminação. Falo daqueles que pensam nos seus irmãos-homens, os desprotegidos da sorte, os sem-abrigo, os refugiados de guerras cruéis. Há, porém, o outro lado, o dos não solidários. Se pensarmos em antónimos de solidariedade, virá em destaque o egoísmo, que arrasta a indiferença, o alheamento propositado ou distraído devido ao carácter, para que não se quebre uma redoma egocêntrica de paz. Vamos deparar com os indiferentes ao bem comum, porque só querem o seu próprio bem.
Já que falei no bem comum, anoto a importância do respeito pelo que é de todos, em que cada um tem um pouco (e refiro agora o bem material, porque também há um bem comum imaterial com uma filosofia de valores e posicionamento perante o bem estar colectivo). A educação familiar, e principalmente a escola, deveriam ensinar pelo exemplo esse respeito.
A catastrófica época de incêndios que temos vivido em Portugal, que nos estarreceu, levou-nos a olhar as imagens televisivas, mas sentados num sofá… Será que conseguimos imaginar o que sentem aqueles que assistem a paredes de fogo hiantes avançando na direcção das suas casas?! Lembro-me do testemunho duma mulher que gritava de revolta diante da desolação negra da passagem do fogo: Ardeu-se-me tudo! Apliquei a minha reforma para limpar tudo… porque o não fizeram os vizinhos? A reforma não é para estar acamada, é para estas coisas… fiquei sem um tostão para alimpar a minha terra! E agora ardeu-se-me tudo!... Os vizinhos desta mulher não tiveram em conta o bem comum, que os obrigava à limpeza das suas terras vizinhas de outras e entramos no domínio da responsabilidade e dos limites da liberdade de cada um.
A solidariedade leva o ser humano a unir-se perante o perigo, contestando em manifestações um Almaraz, um Kim Jong-un, um Trump, ou juntando esforços de ajuda ou desencadeando acções. Termino com palavras do Papa Francisco na sua actual visita à Colômbia: «É necessário chamar uns pelos outros, fazermos sinais como os pescadores, voltarmos a considerar-nos irmãos, companheiros de estrada, sócios desta empresa comum que é a pátria (…), é necessário chamar a todos para que ninguém seja deixado ao arbítrio das tempestades; fazer entrar na barca todas as famílias, santuário de vida; colocar o bem comum acima dos interesses mesquinhos ou particulares, ocupar-se dos mais frágeis promovendo os seus direitos».
Eis um apelo à força gregária da humanidade.

20/09/2017
 

Outros Artigos

Em Agenda

 
09/11 a 21/12
O Rosto do Lugar, O Lugar do RostoGaleria Castra Leuca Arte Contemporânea, Castelo Branco
30/11
Feira Despacha BagagemPraça 25 de Abril, Castelo Branco
tituloNoticia
23/11
Associativismo - Que futuro?Fórum Cultural de Idanha-a-Nova
25/11
Conversas no CaminhoMuseu de Arte Sacra da Santa casa da Misericórdia de Castelo Branco

Gala Troféu Gazeta Atletismo 2022

Castelo Branco nos Açores

Video