Maria de Lurdes Gouveia Barata
COISAS DE MAIO...
Chegou Maio com alegria colorida dos campos e um espanejamento do amarelo das giestas que se transformam nas maias como arauto de primavera instalada e verão iminente. Não faltam, porém, alguma chuva e vento para travar demasiados entusiasmos de bom tempo… Está tudo de acordo com alguma instabilidade da meteorologia e da vida dos homens.
Maio parece dever o seu nome a Maia, uma das ninfas Plêiades (as sete filhas de Atlas e Pleione), a mais velha, bela e tímida, ligada ao calor vital, ao crescimento e à sexualidade. Maio está ligado a noivas e mães e à fertilidade que a inspiração mitológica e as próprias características do mês lhe concedem. Diz um ditado popular: Mês de Maio, mês das flores, mês de Maria, mês dos amores, enquadrando-se no que foi anteriormente dito.
Mês de Maria assume especial relevo no Maio 2017 em Portugal com a visita do Papa Francisco a Fátima, lugar privilegiado de crença e fé na Virgem. Mas a visita do Papa Francisco é igualmente bem-vinda pelos não crentes, porque se tornou relevante o seu pensamento e acção libertadores, fenómeno de humanidade que reconhece a humanidade, apaziguador numa dimensão de apelo à tolerância e à união. Embora não se possa dizer que o Papa Francisco é consensual, porque há os fundamentalistas religiosos que não gostam de mudanças, pode-se afirmar que é o Papa de maior aceitação dos últimos tempos e trouxe uma lufada de ar fresco à evangelização. Identifico-me com José Pacheco Pereira (Público de 6 de Maio 2017): «Para quem não acredita no paraíso celeste, e deseja viver numa sociedade democrática em que não é qualquer teologia que define a política, é a melhoria da vida terrestre que conta. E hoje a voz do Papa Francisco denuncia o que deve ser denunciado e apoia o que deve ser apoiado. Nalgumas coisas não é assim, mas não são as mais importantes, e a diferença de importância para fora é bastante significativa».
Há uns dias li uma citação da autoria do Papa (via internet) que transcrevo: Os rios não bebem sua própria água, / As árvores não comem seus próprios frutos. / O sol não brilha para si mesmo; / E as flores não espalham sua fragrância para si. / Viver para os outros é uma regra da Natureza (…) / / A vida é boa quando você está feliz; / mas a vida é muito melhor quando os outros estão felizes por tua causa. Contrapor o altruísmo ao egoísmo que tão frequentemente grassa nos nossos dias é, na verdade, um princípio de forte base para evangelizar.
O mês de Maio é também o Mês do Coração, escolhido pela Fundação Portuguesa de Cardiologia, ou não fosse Maio um mês da energia vital. O mês de Maio evoca datas de luta pela liberdade, o Maio de 68 em França, o Maio de 69 em Portugal, o 1 de Maio como Dia do Trabalhador, mau grado o 28 de Maio de 1926…
Neste Maio de 2017 registei a vinda do Papa Francisco como um aspecto positivo, conquanto haja o alerta agora insistente contra o Jogo da Baleia Azul, destrutivo de jovens, que leva à procura do sofrimento e da morte, tão contrários a uma simbologia já referida. Este Maio também trouxe o estremecimento das eleições francesas devido a uma Marine Le Pen tão em oposição ao altruísmo que a citação anterior do Papa Francisco defende.
Seja dito que o mês de Maio traz um encantamento de primavera e de sol e de fertilidade que se projecta na Natureza e na alma humana a lutar por ideais. De Manuel Alegre transcrevo três versos dum poema: «(…) nós voltaremos meu amor nós voltaremos sempre / no mês de Maio que é o mês da liberdade / no mês de Maio que é o mês dos namorados» («Nós voltaremos sempre em Maio», Praça da Canção). Com a alegria que deve ter a vida e o sentimento de estar vivo, vivamos este Maio, apesar das sombras que sempre aparecem no outro lado da moeda.