JOÃO CARLOS ANTUNES
Agosto, mês de férias
Agosto, mês de férias. Qualquer beirão está a menos de duas horas das salsas ondas oceânicas e do fresco litoral. Somos um país geograficamente pequeno mas cheio de contrastes a passar, em duas centenas de quilómetros, dos vinte e poucos graus para os nossos quase quarenta. No litoral pejado de turistas, que nos confortam nas contas do crescimento económico, a preocupação é a temperatura da água do mar, que este ano tem estado nos dezasseis graus e algumas décimas, soube-o pela boca do presidente Marcelo, e que os deuses afastem do nosso metro quadrado de praia as neblinas e a chuva. Tudo aquilo por que aqui se anseia, a água e a humidade que afastem temporariamente, até para o ano, o inferno das chamas que este ano, mais uma vez, lavrou pela nossa região e destruiu património de valor incalculável em todos os concelhos do distrito. Todos têm razão nas suas preocupações, todos devíamos ter direito a férias e a gozá-las no sítio que nos desse maior prazer. Mas quem por estes dias não tem direito a férias são os bombeiros. A férias ou a fim de semana. E o nosso coração treme quando os vemos, exaustos mas firmes, na frente de combate às chamas, muitas vezes ajudados por populares que assim querem garantir melhor a defesa dos seus parcos haveres. Seus e dos seus vizinhos, que nas nossas comunidades a solidariedade ainda é um valor. Haja quem dos nossos leitores critique o papel dos bombeiros! Mas as horas seguidas de imagens terríficas nos diversos canais generalistas e de notícias acabam por nos anestesiar. E depois acontece o episódio que há uma ano presenciou e descreveu Pedro Cruz, o subdiretor da SIC. “Hoje, numa área de serviço da A1, um pelotão de bombeiros entrou para uma pausa. Tentavam comer algo, tomar um café. Vinham extenuados. Derreados. Uma das voluntárias estava debilitada. Mal conseguia andar. Estavam sujos, amarrotados, a cheirar a fumo. No bar, a fila de turistas, emigrantes e viajantes em trânsito não tinha fim. Ninguém, sequer, olhou para eles. Ninguém lhes deu lugar na fila. Ninguém lhes agradeceu pelo que fazem.”
Boas férias, se for caso disso.