Nos dias de hoje, numa sociedade cada vez mais informada, a diabetes deixou de ser considerada uma doença endémica, as pessoas obesas, pouco ativas fisicamente, quem se alimenta mal, estes paradigmas estão completamente ultrapassados. Uma grávida pode desenvolver diabetes gestacional, uma criança de meses pode ver o seu pâncreas parar de produzir insulina e ser diagnosticada como diabética tipo I e uma pessoa adulta que entra na reforma, que deixa a sua atividade diária, pode desenvolver diabetes tipo II.
Com toda esta informação o Projeto blue O tem como objetivo principal desmistificar a diabetes no desporto, considerando-o como parte do seu tratamento.
Foi no verão de 2009, numa prova de BTT do Campeonato Norte Alentejano, que desencadeou o que é hoje conhecido como Projeto blue O.
À data, durante a prova, demorei a recuperar de uma hipoglicemia. Chegado à meta, nenhum dos elementos da organização me perguntou o que se tinha passado comigo... Depois deste episódio, em 24 setembro de 2009, início uma rubrica no Forum BTT - Saúde e Treino; omeuBTTtemDIABETES. Surge então, o equipamento personalizado alusivo à diabetes.
Dos contactos para apoiar a iniciativa, surge o blog (www.omeubtttemdiabetes.blogspot.com), com crónicas das provas realizadas e as aventuras vividas.
Nessa sequência começam as divulgações nas redes sociais e pelo interesse e contacto de outros desportistas, também diabéticos, cria-se a página no Facebook Projeto blue O. É uma página com vários gestores: corrida, escalada, trail running, natação, triatlo, corfebol, BTT/ciclismo, entre outras modalidades.
O conceito é dar a conhecer experiências e desmistificar a diabetes no desporto. Nessa condição, é fundamental saber gerir a doença nas mais variadas situações. Está comprovado cientificamente que a prática desportiva ajuda a baixar/estabilizar os valores da nossa glicemia, revelando-se como um papel ativo no complemento do tratamento, contribuindo deste modo para evitar as complicações da doença.
Como em tudo na vida, devagar se vai ao longe. O doente diabético deve, para bem do próprio, adotar determinados padrões de vida que o levem a gerir a sua diabetes a todos os níveis, mas há cuidados e princípios que devem ser levados em consideração. Depois do diagnóstico, tem de existir a aceitação da doença, sobretudo, o facto de ser crónica, temos de a conhecer, tratá-la por tu. Essa aprendizagem passa pelo diálogo com o médico assistente e restante corpo clínico. No meu caso, criou-se também uma amizade precisamente pelo desporto. As associações de diabéticos têm o papel de fazer este complemento, falar das coisas do dia a dia com quem já tem diabetes. A medicação/insulina às horas estabelecidas, as contagens dos hidratos de carbono e, novamente, o desporto, vêm complementar o tratamento, ajudando a que a insulina (injetada no Tipo 1 e/ou a medicação tomada, no Tipo II), seja melhor absorvida/utilizada pelo nosso corpo. Na alimentação, qualquer pessoa - não só quem tem diabetes - deve comer pouco e muitas vezes ao dia, é uma regra fundamental.
Um princípio básico de quem pratica desporto, sendo diabético, é que os hidratos de carbono ingeridos devem ser em função do dispêndio físico e, consequentemente, dão-se menos doses de insulina, é todo um processo que requer um treino tão importante como o exercício em si.
Expor a situação ao médico e ao treinador é essencial para um bom aconselhamento. Aceitar, compreender e atuar são estes os três passos essenciais.
A mensagem do Projeto blue O que não é uma equipa constituída por desportistas, conta, sim, com a intenção e vontade de elementos que recorrendo ao seu investimento pessoal, no plano financeiro e familiar, se deslocam às provas/eventos desportivos onde posteriormente reportam as experiências vividas com o jersey blue O.
A sociedade já vai percebendo que existem ainda tabus relacionados com a diabetes. O Projeto blue O pretende assim ajudar a eliminar esses fantasmas com exemplos de superação reais.
Carlos Farinha

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