João Carlos Antunes
AS VIAGENS
As viagens tornam o sábio mais sábio e o tolo mais tolo, diz o provérbio. Mas se há aqui uma dose generosa de exagero, verdade é que parte não negligenciável daqueles que nos visitam regressa à sua terra a saber tanto de Portugal como à chegada. Mas que interessa? Bom é saber que o turismo faz bem à saúde da nossa economia, tão bem que já vale metade do valor das nossas exportações de bens e serviços, 15 por cento do produto Interno Bruto (PIB) e os vinte e dois milhões de turistas que entram cada ano, geram mais de um milhão de empregos. Isto não invalida que haja quem encontre malefícios nesta indústria. São os que têm de partilhar a cidade com a legião de turistas que invadem os centros urbanos, enche os nossos restaurantes habituais pressionando os preços que temos de pagar com os ordenados portugueses, criando novos problemas como o excesoi de alojamento local, elevando a píncaros ina-cessíveis as rendas e compras de casa no centro das cidades mais procuradas pelos turistas. Por isso já há movimentos antituristas em cidades como Barcelona e por cá, ainda que timidamente, já se quer seguir o exemplo. É errado, porque o turismo é a nossa principal indústria, uma indústria muito sensível de que precisamos como pão para a boca, sabendo que uma mudança no panorama atual (acolhimento, segurança, clima, gastronomia e património) pode matar a galinha dos ovos de ouro. Uma política lúcida e inteligente passa por não permitir a descaracterização dos centros históricos, seja em Lisboa, Porto, Covilhã ou Castelo Branco e fazer apostas na diversificação dos polos de atração turística. É bom sabermos que o turismo rural, no Interior, já vai dando um ar da sua graça, que aldeias abandonadas, quase sempre aldeias de xisto, estão a ganhar nova vida.
Há os que nos visitam e há, cada vez mais, os que ficam de tal modo apaixonados pela nossa forma de vida que acabam por cá se fixarem. É uma mão cheia de brasileiros da classe alta, são gente famosa, como o desportista Cantona, a atriz Monica Belluci ou, há poucos dias foi notícia, a cantora Madonna, que aqui procuram novos negócios, a pacatez, a segurança e o afastamento dos malfadados paparazzis. E até foi notícia de primeira página a vontade de Harrison Ford, o eterno Indiana Jones, comprar uma herdade em Castelo Branco. É o cúmulo do snobismo desdenhar destas figuras, veja-se o que vai pelas redes sociais sobre a Madonna assumidamente Lisboeta. Por nós, ficamos felizes por os receber, como também recebemos bem os refugiados. Está nos nossos genes, na maneira de ser Português. Welcome guys.