Segundo Paulo Freire “ninguém educa ninguém; ninguém tão pouco se educa sozinho, os homens educam-se entre si mediados pelo mundo”.
O conceito de autonomia está fortemente ligado à cooperação. Piaget salienta que as relações de cooperação e autonomia são um único processo e que cooperar implica a existência de respeito mútuo, exige a adoção de escalas de saberes comuns ou compartilhados de objetivos e metas na presença da reversibilidade operatória dos parceiros, onde cada qual se coloque no lugar do outro.
Vivemos um momento de procura dos valores e da qualidade no processo da educação para a cidadania muitas vezes não alcançada devido aos recursos financeiros escassos, à falta de recursos humanos qualificados, aos recursos materiais inadequados e insuficientes, aos contextos socioeconómicos diferenciados e, principalmente, à inexistência de culturas escolares verdadeiramente comunitárias.
Descartes exerceu a dúvida para a não sofrer. Aqueles que defendemos o fim do divórcio entre educação e cidadania devemos exercer a insegurança desta convicção para a não sofrermos.
Será legítimo continuar na teimosa afirmação de que a escola está em crise ou devemos procurar compreender que, antes de tudo se trata de uma crise da educação?
Quando se utiliza o conceito de crise na educação remete-se este conceito para a dimensão da mudança a que a escola e a educação em si mesma estão constantemente sujeitas. Em todas as épocas, com efeito, houve sempre problemas e desafios novos que foi preciso saber ver, analisar e, eventualmente, corrigir.
Agora que se conclui mais um ano letivo e se prepara o próximo, é possível, embora nos possamos enganar, detetar alguns elementos dessa crise de mudança:
— A legitimidade daquilo que é ensinado. É um problema de conteúdos com tendências cada vez maiores para os conhecimentos propriamente ditos, pouco preocupados com a perda de valores.
— A autoridade, no sentido nobre do termo, que na educação resulta da capacidade que a escola tem, através dos seus professores, em transmitir os conhecimentos e os valores. Contudo, esta época de crise limitou fortemente essa autoridade e a escola, de uma certa forma, tem alguma relutância em admiti-lo.
Estes dois elementos são vizinhos nucleares de outros dois. Assim, à legitimidade do que é ensinado corresponde a autonomia, para a qual deviam contribuir os conhecimentos e o seu respetivo desenvolvimento na vida de cada aluno, e à autoridade corresponde a liberdade ardentemente reclamada, mas não assimilada como tal.
O estável ou, se quisermos, o equilibrado sentido da ligação humana à realidade concreta que a cerca, perdeu-se — vivemos em crise. Desta forma, o que há para gerir na educação para a cidadania é esta constante instabilidade e esse é o fenómeno mais complexo da situação: gerir e regular a constante instabilidade.
Neste sentido, importa clarificar alguns conceitos que se confrontam ao nível do ensino, da educação e da igualdade de oportunidades e que, no senso comum de alguns dos seus agentes, se constitui em dilema fundamental opondo o ensino tradicional aos novos paradigmas da inovação, do conhecimento e da solidariedade.
Ao utilizarmos os conceitos de consciência moral e responsabilidade, devemos fazê-lo, em primeiro lugar, no sentido do esclarecimento, da descoberta e da construção nos jovens de uma identidade forte para um projeto de vida com sentido e, em segundo lugar, no sentido respeitador dos sentimentos coletivos nos mais diferentes contextos da vida social, a começar na comunidade escolar restrita a que pertencem, para chegar à identificação de pertença à comunidade social mais alargada, onde se deseja que intervenham.

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