9 de dezembro de 2015

Elsa Ligeiro
Eu não sou ninguém

“Quando se lê Florbela entra-se num mundo paratextual. À sua volta (como à volta de Antero, Nobre ou Sá-Carneiro) gira um mito que a torna a heroína da sua poesia, mais que a sua autora”, escreve o professor Fernando Cabral Martins, num luminoso ensaio sobre Florbela Espanca.
Vitorino Nemésio, Natália Correia e Nuno Júdice também dedicaram uma atenção especial à Obra de Florbela Espanca que nasceu a 8 de Dezembro de 1894, em Vila Viçosa, e que produziu alguns dos mais conhecidos e declamados versos do século XX português.
Mulher determinada, lutou contra as convenções e a hipocrisia: “Tenho pela mentira um horror quase fisíco”, escreve em Setembro de 1930, no seu Diário, a poucos meses do seu suicído, na data em que completaria 36 anos, em Matosinhos.
Já no dia 16 Julho, no mesmo diário, tinha registado: “Tão pobres somos que as mesmas palavras nos servem para exprimir a mentira e a verdade”.
Durante a sua vida é admirada pelo seu talento e conhecida pela excessiva exposição pública que lhe trazem alguns dissabores. Fixa em versos os seus desgostos e anseios e nos poemas que compõe acusa: “O mundo quer-me mal porque ninguém/ Tem asas como eu tenho! … Porque o meu reino fica para além…/ Porque trago no olhar os vastos céus/ E os oiros e clarões são todos meus!/ Porque eu sou Eu e porque Eu sou Alguém.
Escreve contos, dois deles dedicados ao irmão, morto na queda do avião que pilotava, que a deixa numa depressão profunda. Em “O Aviador” e “O Inventor” Florbela Espanca traça o perfil de Apeles Espanca, descrevendo também neles a infância comum.
Vários casamentos não lhe trazem o amor e a felicidade pedida em versos que décadas mais tarde compositores transformaram em canções inesquecíveis como “Ser Poeta” ou “Amar”.
O filme Florbela, do realizador Vicente Alves d’Ó, veio confirmar a permanência do mito e a autora popular que Florbela Espanca continuava a ser por força da poesia que sobressai em versos luminosos como: “Mas eu sou a manhã: apago estrelas!”, ou ainda mais visível num dos sonetos que dedica a Camões:
“Eu queria mais altas as estrelas,/ Mais largo o espaço, o Sol mais criador,/ Mais refulgente a Lua, o mar maior,/ Mais cavadas as ondas e mais belas;/ Mais amplas, mais rasgadas as janelas/ Das almas, mais rosais a abrir em flor,/ Mais montanhas, mais asas de condor,/ Mais sangue sobre a cruz das caravelas!// E abrir os braços e viver a vida:/ - Quanto mais funda e lúgubre a descida,/ Mais alta é a ladeira que não cansa!// E, acabada a tarefa… em paz, contente,/ Um dia adormecer, serenamente,/ Como dorme no berço uma criança!”
Agustina Bessa-Luís dedicou-lhe uma biografia, em 1979, que vale a pena ler.

10/12/2015
 

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