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27 maio 2015

Fernando raposo
Por qué no te callas?

Perante o calor ofegante do entusiasmo dos jotas da congressão, uma vez mais a Ministra das Finanças, Maria Luís Albuquerque, impelida pelo fervilhar dos neurónios, descarrila para o delírio e a língua foge-lhe para o dislate: “O país está hoje bem melhor do que em 2011”. Já antes cometera o mesmo tipo de atoarda quando apregoara ter os cofres cheios, a abarrotar, quando a malta se desunha e tem de “rapar o tacho” para se aguentar até ao fim do mês.
O resultado é bem conhecido de todos: Foram-se os anéis da coroa, a TAP está em vias de ser vendida por meia dúzia de patacos e tivessem sido, as águas de Portugal, objecto de reestruturação mais cedo e agora já estariam a ser vendidas por atacado aos chineses.
 Passos Coelho, Portas e os seus rapazes são danados para o negócio. São assim como uma espécie de comissão liquidatária ou agentes de insolvência.
Ao mesmo tempo que os serviços públicos que o Estado tem o dever constitucional de garantir a todos os portugueses, se degradam, a dívida pública não pára de aumentar. Em 2014 ficou acima do estimado pelo governo. No final de Dezembro, a dívida atingiu o valor de 224,477 mil milhões de euros, correspondendo a 128,7% do PIB, muito acima da dívida pública verificada no final de 2011 que era de 107,2% (183,3%).
Terão sido à volta de 400 mil, os portugueses que tiveram de emigrar desde que Passos assentou arraiais em S. Bento. A maioria jovens, com formação superior e quando mais poderiam dar ao país. Ainda superior àquele número, foram os postos de trabalho destruídos.  Ninguém mais esclarecedor sobre esta matéria do que Correia de Campos: “Mais 31 mil desempregados no sentido restrito do termo, mais de 113 mil desencorajados de procurar emprego, mais 80 mil desempregados de longa duração” (Público, 11 Maio). De todos os desempregados, 70 % foram abandonados, não tendo qualquer apoio social do Estado.
Apesar do governo de Passos e Portas ter acumulado de dívida aos credores mais 41,177 mil milhões de euros relativamente a 2011 (a dívida pública era, em 2011, de 183,3 mil milhões), calcula-se que aproximadamente 150 mil portugueses se encontrem em risco de pobreza e são muitas as crianças que “engrossam” este número.
E para aqueles que acusam os governos do PS de despesistas, não será de mais relembrar que nessa altura todos tinham direito à educação, à protecção social, à saúde, …, ninguém morria por falta de assistência ou recusa de medicação mais cara, ou abandonava a escola por falta de apoio.
Depois desse tempo, que dizem de despesismo, muitas crianças, dezenas de milhar, perderam o abono de família e muitos idosos, muito para cima dos 100 mil, perderam o complemento solidário.
Segundo Raquel Martins, referindo-se ao mais recente relatório da OCDE (Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Económico) sobre a distribuição de rendimentos, “Portugal é o sétimo país mais desigual da Organização” (Público, 22 Maio). Numa linguagem simples, em Portugal o rendimento dos 10% mais ricos é quase 10 vezes superior ao rendimento dos 10% mais pobres.
A vida dos portugueses, ao contrário do que diz Maria Luís Albuquerque, é hoje, pelos sacrifícios impostos, pela pesada carga fiscal, pelo elevado número de desempregados, pelo desmantelamento dos serviços públicos da saúde, da educação, da segurança social, enfim  por tudo o que de mal o governo de Passos e Portas fizeram ao país,  bem mais dura e difícil.
Talvez, quem sabe, Maria Luís Albuquerque estivesse apenas a pensar nos mais ricos quando “botara boca fora”, aquela atoarda sobre a situação do país e que para a maioria de todos nós constitui uma provocação, à qual deveríamos responder em uníssono, como o rei de Espanha dissera a Hugo Chávez, “Por qué no te callas?”

27/05/2015
 

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