NA ROCA GALLERY, EM LISBOA
Património arquitetónico do Fundão em exposição
A exposição Um destino Coisa simples. Património arquitetónico do Fundão do século é apresentada terça-feira, na Roca Gallery, em Lisboa
Para Pedro Novo, o curador da mostra, “num panorama realista onde o reconhecimento da arquitetura moderna enquanto património é muito recente esta exposição preten- de aproximar e divulgar junto das populações algumas figuras importantes da arquitetura portuguesa do Século XX que operaram na Beira Baixa, como os casos de Chorão Ramalho ou de Pires Branco. A exposição é um ensaio-inventário que ultrapassa em muito a escala concelhia”.
Também para o presidente da Câmara do Fundão, Paulo Fernandes, a arquitetura novecentista é “um património do Fundão que se percebe numa outra geografia que tem de ser valorizado e preservado pois constituiu um eixo da materialidade da nossa identidade regional que prova a evolução da contemporaneidade das periferias”.
Coube ao historiador Pedro Salvado, a coordenação científica da exposição que revela: “a ideia da cidade como um livro escrito por várias mãos (salientemos os nomes de Pires Branco, Chorão Ramalho ou Carlos Ramos) num jogo íntimo e plural de perspetivas que percorrem itinerários de rumo mais definido ou mais labiríntico. São leituras, obra que apreenderam a identidade urbana assinalando as fronteiras materiais e simbólicas do coletivo. Eugénio de Andrade, com ironia, assim descreveu uma das estratigrafias mais impactante na malha urbana da história finissecular local: “O Fundão era agora cidade e, nestes últimos anos, tem crescido a olhos vistos; crescido tortinho como todas as nossas terras, graças a deus, mas para orgulho de muitos acabará por ficar parecido com a Maia, e a Maia parecida com Freixo-de-Espada-a-Cinta, e o Freixo parecido com Tavira”.
O poeta acrescenta também que é com estes topónimos da permanência emitidos pela palavra Fundão, “com esses vocábulos, que interrogo a memória, num desejo insensato de preservar certos instantes (…). Porque durante a minha infância, todas as vozes, todos os cheiros, todos os sabores pertenciam a estas terras, terras com nomes palpáveis”.
E a evocação histórica, essa seiva do vivido muitas vezes já patrimonializada, representa uma coordenada fundamental no enraizamento do quotidiano da cidadania. José Saramago dizia que “O destino, isso que damos o nome de destino (a tal coisa simples, ou não, de Eugénio), não conhece a linha reta”.
O Fundão é “terra de nome palpável, cujo fio vital nenhuma parca do destino ousara algum dia quebrar”.
Pires Branco, o arquiteto da modernidade albicastrense que, apesar de alguns reconhecimentos, Castelo Branco tarda em homenagear, estará presente na inauguração. “É o mínimo que podemos fazer: ouvir e aprender com ele reconhecendo a dívida que as novas gerações de arquitetos têm por este grande mestre da construção das paisagens vivenciais da Beira no Século XX”.