João Belém
As palavras mágicas …….
Na antiguidade clássica, os gregos usavam uma imagem interessante para explicar o ser humano: Cada um de nós é semelhante a um pequeno barco que vai atravessar o oceano. Mas não nos lançamos ao sabor dos ventos, porque somos seres éticos, dotados de livre –arbítrio e as nossas ações racionais e físicas são sustentadas pelo desejo de sermos felizes como seres humanos.
Segundo Silvio Gallo, em Ética e Cidadania – Caminhos da Filosofia, “ Apropriarmo-nos do leme das nossas vidas e realizar a travessia é realizar uma ética fundada na estética: fazer da própria vida uma obra de arte. Compete-nos a tarefa artística de instaurar na vida a beleza sendo por isso necessário assumir a mesma posição do artista: ser criador” Neste contexto devemos assim encarar a vida como uma pedra na qual vamos imprimindo formas e contornos, um estilo próprio de viver, um jeito pessoal de ser feliz de forma a deste modo afirmarmos a beleza.
Mas se olharmos em volta reparamos que estamos num mundo em que tudo parece estar feito e que nos cabe apenas consumir. Experimentamos pois uma inversão de valores morais que são o fundamento da ética.
O desenvolvimento alucinante da ciência e tecnologia ofuscou a “humanização” do ser humano e a própria noção que ele tem do outro. Como exemplo disso o psicanalista alemão Erich Fromm caracterizou a sociedade atual dizendo que se dá mais importância ao ter do que ao ser, ocupando o dinheiro o centro das atenções. Nos dias de hoje a pressa é tanta em ganhar dinheiro e ter sucesso que nos tornamos alheios e indiferentes aos apelos da realidade que nos envolve e não perdemos tempo nem com um simples “ bom dia “.
Se refletirmos, muitas situações de conflito poderiam ser evitadas com a simples inclusão de expressões como “ por favor”, “ obrigado “, “ com licença” e outras palavras conciliadoras, muitas vezes mágicas que carregam em si a atitude de quem fala ao outro com respeito e cooperação.
Por isso é cada vez mais importante o exemplo dos pais, familiares, educadores, enfim todos aqueles que constituem o universo das crianças pois elas dão mais atenção e importância ao que os pais fazem do que dizem. Segundo a psicóloga Celina Collet usar as “palavras mágicas” é tão importante quanto compreender a sua importância para a manutenção de uma boa relação interpessoal pois na realidade, “ por favor”, “ obrigado “ e “ com licença” são atitudes que quando utilizadas precisam de deixar de ser reações repetitivas e automáticas para se tornarem respostas conscientes da presença do outro.
Ensinar atitudes de boa convivência para os nossos filhos deve ir além de ensiná-los a ter bons modos. A construção destas atitudes conciliadoras deve acontecer por meio de bons exemplos pois não esqueçamos que gentileza gera gentileza. Para o conseguirmos precisamos de deixar vir à tona aquilo que existe de mais positivo em nós como por exemplo o respeito, a compreensão, a gratidão e principalmente reconhecer e aceitar o outro com todas as suas diferenças e especificidades.