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11 de novembro de 2015

Antonieta Garcia
O diabo é levado da breca!

Não vou analisar a questão das cheias, em Albufeira, porque sobre o tema refletiu religiosamente o Senhor Ministro da Administração Interna. Rezador nato, pelas afirmações que proferiu, percebe-se que mantém um tu-cá, tu-lá com o sagrado que só as almas eleitas franqueiam. Ninguém lhe levará a palma neste setor. Falta muita santidade à maioria (até dos devotos!) para descodificar avisos e vozes divinas. Assim sendo, atenho-me mais a questões que a tendência para a lei do menor esforço alivia.
Quando alguma coisa corre mal, é o diabo que fica na berlinda. Pecadora confessa, enxergo melhor as suas diabruras e a manhosice que alimenta o seu fazer. Que, nos últimos tempos, assentou arraiais em Portugal, é verificável. Ora, que explicação para malfeitorias, mais malfeitorias, mais malfeitorias?
Sempre me ensinaram que o demo sabe muito porque é velho. Catedrático na arte de sedução aconselhava, desde os tempos vicentinos: Não cureis de vos matar / que ainda estais em idade /de crescer /Tempo há aí para folgar /e caminhar / Vivei à vossa vontade / e havei prazer. // Gozai, gozai dos bens da terra, / Procurai por senhorios / e haveres. (…) /Não cureis doutro paraíso...
Quem escolheria outro caminho? Ainda assim, no Auto de Gil Vicente, a Alma resiste ao anjo mau. Por pouco tempo, já que palavras melífluas acabam por convencê-la; por isso, sustenta quando interpelada pelo anjo que indicava o caminho bom: Faço o que vejo fazer /pelo mundo.
Sofre a divindade celestial; de que valeram os alvitres que alertavam para a perdição eterna?
Por outro lado, era desumano recusar a promessa satânica: Há aí tempo de folgar / (…) e outra idade de mandar e triunfar / e apanhar / e adquirir prosperidade / a que puder…
Persuasivo, convincente acrescentava o demo: O ouro para que é, / e as pedras preciosas, / e brocados? E as sedas para quê? //.
À retórica tentadora somava colares de ouro, anéis, pendentes, o casar… garantes de bom viver. Instalado o reino da confusão, a Alma hesitava entre os dois caminhos. De um lado o Anjo bom, a abrir os rumos para um futuro mantimento celestial; do outro, Belzebu a chamar para o prazer, já.
Era difícil a escolha? Agora, porém, é pior. Se Gil Vicente identificava os caminhos do Bem e do Mal, nos tempos que correm, baralhou-se tudo. De novo, duas direções: uma à esquerda, outra à direita. Escolhemos. O quê?
O diabo é levado da breca e teceu-as. Nestas eleições de selecionarmos rotas, adicionados os votos, ninguém se entende. Quem ganhou? Qual é o caminho? Depende do ângulo de visão de quem examina… De tal forma que até a Matemática, ciência exatíssima, se demitiu; os números já não são o que eram, cada um dá seu palpite, sem atinarem com uma solução. Demoniacamente embrulhados, os números, em contas tontas, estremecem, tremelicam, assustam… e o Satanás aproveita, lambisqueiro…
Não chegava este problema, processou-nos as carnes vermelhas - claro! - incluindo a do porquinho - uma das provas da existência de divindades que, desde há séculos, nos ensinam as mãos a fazer enchidos de truz -; estamos sem entendimento que nos governe, com lesados de bancos maus e bancos bons, um caminho à direita e outro à esquerda… Estressamos e roemo-nos ou expiramos de desassossego? Que é do anjo bom?
Isto é o diabo! Mais: astuto, velhaco e tentador pôs em Bruxelas, a liderar, um anjo barroco (os anjos não têm sexo e esta asserção ainda é verdadeira), muito dourado, glorificado pelo trabalho, perfeição, integridade, honradez… Modelo de vontade de quem queria construir uma Europa a sério.
A princípio, correu bem. As coisas infernizaram com a dívida, os juros, o défice... e fomos parar ao lixo. Preguiçosos, sol e mar, muito vício e pouca virtude, acusavam-nos.
A autoestima andava pelas ruas da amargura. Eis senão quando, a história dos automóveis levantou, em todo o mundo, o véu da dúvida, face à virtude e probidade dos parceiros credores; acresciam as teses de doutoramento plagiadas e outros pecadilhos veniais que fazem cair santos do altar, mostram pés de barro… a humana condição.
Lamuriemos e paguemos. Somos gente séria, ora essa! Discordará uma minoria, mas, nesta matéria, comparativamente somos aprendizes de feiticeiro...
Então qual é o caminho? O do anjo barroco? E vamos continuar a revirar os bolsos de onde nada sai? Deuses homéricos deem uma mãozinha nesta epopeia! Fizemos uma descida infernal à pobreza, apontem-nos o futuro…
Entretanto, o diabo diverte-se; levado da breca, cria episódios atrás de episódios de uma novela infindável, desordena os pobres do sul… Maquiavélico oculta o desenlace.
E agora? Que caminho? Teremos de aprender que não há eleições que nos penitenciem, enquanto os resultados não agradarem aos senhores mercados e à alta escola com sede em Bruxelas… ou não?

11/11/2015
 

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