Celeste Capelo
E,TUDO ISTO ESTÁ MUITO TORTO….
As aulas estão a acabar. Os exames do Ensino Básico estão a acontecer. Os alunos do Ensino Secundário angustiados (alguns…), já a fazerem as médias para conseguirem e sonharem entrar no Ensino Superior. Os Professores com os concursos a decorrer, aumentando o stress legítimo, de quem não sabe onde irá estar no próximo ano lectivo. Os Agrupamentos de Escolas e suas direcções atarefados com a quantidade de burocracias a cumprir, e sem saberem ainda o ordenamento do próximo ano lectivo, situações que sobram também para os restantes Professores.
É sempre assim no final dos anos lectivos, com a diferença de que, hoje em dia, toda esta agitação acaba com a sensação de que algo foi, ou está mal resolvido.
Analisemos, muito superficialmente, a estrutura do ensino apenas e só nos pontos que pretendo salientar, para justificar o que atrás digo como “ mal resolvido”.
E, a primeira má resolução, prende-se com os programas e metas a atingir que são impostos. É claro que se ouvem muitos Professores dizerem que não conseguiram acabar o programa.
Porquê? Várias razões. O stress que é provocado pelas provas finais de ciclo ? 4º e 6º anos, que se realizam antes do final do final do ano lectivo. A indisciplina dos alunos dentro da sala de aula é perturbadora da aprendizagem. Utilizem e, ou inventem os Professores, as mais variadas estratégias, procedam com as mais variadas pedagogias, empreguem múltiplos planos, nada disso resultará.
E porquê, mais uma vez? A autoridade dos Professores não é reconhecida nem defendida.
Quantas notícias ouvimos e lemos de agressões de alunos e pais de alunos aos Professores e a Assistentes Operacionais de Educação?
Será que hoje estamos mais agressivos, como nos relatava há dias uma revista semanal, ou será apenas a permissividade de pais e educadores, ou será ainda a falta de regras, de valores, de conhecimento, neste caso desconhecimento, das hierarquias cívicas, profissionais, familiares, sociais?
No plano dos programas que os Professores não conseguem cumprir, haverá também algo a dizer, a começar pelos manuais escolares que, infelizmente, não primam pela defesa desses valores tão necessários a quem está neste período do percurso de crescimento.
Para lembrar o exemplo que já foi falado num livro de física, onde o texto para resolução de um problema para determinar o peso na queda, começava assim: O João atirou o gato pela janela….
Será que esta frase tem alguma coisa a ver com a didáctica desta disciplina? Ou terá a ver com a agressividade com que hoje, dia a dia, somos confrontados ao ter conhecimento, por exemplo, de agressões entre os jovens? Será também por isso que, numa sondagem revelada ainda esta semana, os jovens acharem natural a violência no namoro?
E o desenvolvimento psicológico do crescimento infantil, tão estudado na formação de Professores e, neste caso, refiro-me ao programa de língua portuguesa e de matemática do 2º ano de escolaridade.
Será que quem fez os manuais escolares teve em conta o desenvolvimento psicológico destas crianças de 7 anos de idade, que ainda estão no período pós operatório concreto? Textos poéticos como “Guarda roupa de nuvens” de António Torrado, in José António Gomes (coord.) Conto Estrelas em ti, Campo de Letras (2000) (texto com supressões), cuja interpretação exige um poder de abstracção que ainda não é possível nestas idades, pois não fazem parte das vivências do seu dia a dia. E ainda as perguntas de interpretação como podem ser respondidas se o texto nem sequer foi entendido?
Cito ainda o texto de Manuela Bacelar, “O meu Pai” , Ministério da Educação, 1998, que é de uma agressividade, e, no meu entender até traumático, que pode colocar a criança num dilema difícil de resolução ao nível do seu estado psicológico.
E ao nível da matemática? Pretende-se nesta idade que as crianças resolvam “charadas”, ou que dominem e exercitem o cálculo mental, a fixação da tabuada, a decomposição dos números, a utilização do ábaco e do material multibásico, o preenchimento de lacunas, etc.? Pois vejo que, já nesta idade, sem estes requisitos consolidados, são colocados problemas que exigem conhecimento dos sistemas fraccionário e decimal.
Depois vêm falar-nos de insucesso e abandono escolar! …
De pequenino é que se torce o pepino, diz o povo. Com este tipo de ensino a criança fica logo desmotivada à partida, a não ser que em casa tenha, não é algum apoio como deve ser e faz parte da responsabilidade dos pais, mas nestes casos, têm de ter muito apoio em casa.
Ouvi há dias na televisão uma avó, que foi Professora do 1º ciclo, dizer que já não sabia e, sublinho a palavra sabia, ajudar a neta. Ela, como tantos outros professores, prepararam alunos para exames de fim de ciclo e de admissão….
O que nasce torto, tarde ou nunca se endireita.
E, TUDO ISTO ESTÁ MUITO TORTO…