Valter Lemos
Eleições: as dores do PS e o que se segue
Desde 1976 o centro político tem ganho as eleições em Portugal. Umas vezes sente-se atraído mais pela direita e esta ganha as eleições (Sá Carneiro, Cavaco Silva, Durão Barroso), outras vezes sente-se atraído mais pela esquerda e o PS ganha as eleições (António Guterres, José Sócrates). Em 2011 o centro votou maciçamente à direita e esta obteve um resultado superior a 50 %. Nestas eleições, no entanto, a direita perdeu cerca de 12%, mas o PS só obteve mais 3 ou 4%. Aparentemente o centro político dividiu-se (há quem refira que se pulverizou) e não deu uma vitória clara nem à direita nem à esquerda. É evidente que a coligação PSD-CDS ganhou as eleições, mas, em termos restritos, porque também é evidente que a globalidade da oposição à esquerda tem mais votos e mais mandatos do que a força política vencedora.
O centro político não teve pois o comportamento habitual em situações anteriores. Nem se inclinou todo à direita, pois se o tivesse feito esta teria obtido a maioria absoluta como em 2011 e tão pouco se inclinou à esquerda, pois, a ser assim, ganharia o PS. No mínimo ter-se-á dividido entre as duas forças, ou até ter-se-á pulverizado, como alguns defendem face ao resultado do Bloco de Esquerda e de alguns pequenos partidos, com transferências diretas do PSD-CDS para o BE e outros. Como é que isto aconteceu, não sabemos ainda, mas, se olharmos para quem constitui historicamente esse grupo, poderemos tentar analisar o que poderá ter acontecido. O eleitorado do centro é constituído genericamente por grupos da classe média como funcionários públicos, trabalhadores por conta própria, pequenos empresários e quadros médios e superiores. Aparentemente todos estes grupos foram afetados fortemente nos últimos quatro anos, quer pela via dos cortes diretos ao rendimento como os funcionários públicos, quer pela via do “brutal” aumento de impostos, quer diretos sobre o rendimento como o IRS, quer indiretos como o IVA e o IMI entre outros. Então como se percebe que, ainda assim, alguns destes grupos ou parte deles se tenha inclinado de forma favorável ao governo de direita? As hipóteses possíveis passam por absolver o governo da razão das medidas atribuindo-as ao contexto de crise ou até ao governo anterior ou por não acreditar ou confiar nas alternativas que o PS apresentou ou, ainda, por em situação de idêntica confiança ou desconfiança nas alternativas e num contexto de medo e insegurança, preferir não arriscar a mudança. Ou também, para a hipótese das transferências diretas da direita para a extrema-esquerda, por o nível de indignação e protesto ter conduzido a uma alteração radical da posição política, o que dará razão aos que dizem que o centro político tende a desaparecer no atual contexto político de Portugal e da Europa.
Os próximos tempos ajudarão a perceber melhor tais razões.
As dores do PS e os trabalhos do Governo
Por qualquer ponto de vista o PS foi o principal derrotado destas eleições e os tempos que se avizinham são ameaçadores. Há um ano atrás o PS teve pouco mais de 30% nas europeias, mas, apesar do fraco resultado, ganhou as eleições porque os outros partidos ainda tiveram pior resultado. No entanto, a liderança de António José Seguro foi posta em causa face às expetativas dos militantes e simpatizantes do PS os quais vieram a mostrar uma vontade maioritária e inequívoca de mudança dessa liderança (com diretas para a candidatura a primeiro ministro com a participação de largas dezenas de milhares de simpatizantes não militantes). Por isso esta derrota também dói mais ao PS e a António Costa. O que fazer agora? Face ao resultado obtido seria normal a substituição de António Costa, mas, o enorme comprometimento que o recente processo da sua escolha implicou deixa a maioria do PS sem qualquer condição de a reivindicar, ainda que a posição dessa liderança seja agora de maior fraqueza e menor empolgamento. Por outro lado o tempo político que se avizinha coloca grandes problemas, não só ao PS, mas também ao futuro governo PSD-CDS.
Para além da questão presidencial que não analisaremos aqui, mas que pode ser dilacerante para o PS (e também coloca algumas dificuldades, ainda que previsivelmente menores, à coligação), o próximo governo minoritário do PSD-CDS terá trabalhos acrescidos para aplicar o seu programa, dado que, apesar de vencedor é política e socialmente minoritário. Mas, curiosamente, tal facto pode trazer mais problemas ao PS que à direita porque o coloca na situação de viabilizar ou não esse governo. A coligação está em minoria, ou seja, não tem votos nem mandatos suficientes para garantir a viabilização do orçamento e ninguém duvida que o BE e o PCP votarão contra o mesmo. Mas, a estes ninguém pedirá contas, porque os mesmos estão sempre na cómoda posição de só se considerarem responsáveis pela rejeição do governo mas não pela apresentação de uma alternativa, o que não é permitido ao PS. Assim este ou viabiliza o orçamento e alguns sentir-se-ão traídos, face até à própria campanha eleitoral ou rejeita o orçamento e terá que arcar com a responsabilidade de criar uma situação de ingovernabilidade, porque acresce o facto de não poder haver dissolução da AR (e eleições) até meados do próximo ano. Obviamente que tal poderia ser superado com a constituição de um governo alternativo, mas, verdadeiramente ninguém acredita que o BE e o PCP queiram ou sequer sejam capazes de assumir responsabilidades ou que um governo ainda mais minoritário do PS tivesse qualquer viabilidade.
Curiosamente e apesar da coligação PSD-CDS ter vencido as eleições parece ser o PS a ter que servir de fiador do governo e isso constituir mais uma ameaça a juntar às decorrentes da derrota eleitoral, dos dilemas das presidenciais e das possíveis e prováveis agitações internas. O tempo parece pois não estar de feição para o PS, mas bem mais ajeitado às expetativas da coligação. Esta aparentemente prepara-se para governar pouco por falta de condições, culpar o PS disso e oportunamente provocar novas eleições na expetativa de repetir o efeito de 1987 com Cavaco. O BE e o PCP estarão alinhados para uma tal estratégia, na mesma expetativa de sempre de obter mais votos à custa do estreitamento do PS, ainda que tal possa desembocar numa maioria de direita.
Castelo Branco
No distrito de Castelo Branco ganhou o PS, com uma diferença de 3 ou 4 pontos, o que, não sendo muito impressivo, é significativo face à derrota ocorrida em 2011, voltando a obter um resultado acima da média nacional como era comum em eleições anteriores. Outro dado interessante foi o facto de a coligação ter perdido no Fundão, tendo em conta que a respetiva câmara é dirigida pelo PSD e que o anterior presidente da mesma era o atual cabeça de lista do PSD-CDS. E também não deixa de ser curioso que o PS tenha perdido em Penamacor.